Foi
muito tempo fora desta escrita em espaço público. Um acumular de assuntos que
mereceriam a palavra que a DianaFm quer continuar a dar-me e os
ouvintes/leitores vão tendo a paciência de ouvir/ler. Obrigada a ambos e vamos
lá a mais uma série de crónicas, a partir desta cidade que se diz de toda a
Humanidade.
O
prato principal da semana será, para além do fenómeno não inesperado mas sempre
alarmante da abstenção, a constituição do 22º Governo de Portugal. Prato regado
com pipas de liquidez verbal jorrada por comentadores e cenaristas. Desde 2015
que os Portugueses tiveram a oportunidade de perceber a importância da AR na governação
e não apenas no contrapoder que em 2011 teve o seu exemplo mais
recente. Tiveram a oportunidade, mas só metade dos eleitores lhe reagiram,
o que exige mudanças, que tardam, por parte dos Partidos que constituirão a AR,
sob pena de o sentido da Democracia se perder. Mesmo que mais três Partidos,
por muito bizarros que aparentem ser, seja um sinal de maturidade democrática.
De
qualquer forma, foi graças a uma chamada “geringonça” que isto aconteceu, o que
certamente alegrará os manuais de História daqui a alguns séculos. O
inadvertido padrinho nunca terá imaginado o bem que fez a sua inspiração no
momento da discussão acalorada, sobretudo porque tendo submergido de novo, qual
submarino, para longe das luzes da Política nacional, não deve ter imaginado o
favor que fez aos adversários e em que doca-seca deixou os seus correligionários.
Porque
as geringonças já cá andam há muito tempo, sem que, só quem nunca esteve em
nenhuma organização em que é preciso fazer e submeter a escrutínio propostas de
governação, a qualquer nível e em qualquer actividade, o pudesse imaginar. Um
jogo de forças díspares mas sem que a mais leve seja dispensável; uma arte em
fazer rodar as personagens da sombra para o centro do palco; uma técnica em
escolher a banda sonora que concentra os olhos nos bailarinos ou os fecha para
que só se ouça a música e se esqueça o baile. Enfim, muitas outras habilidades
para as quais haveria outras tantas metáforas ou alegorias.
O
que não falta, aliás, são geringonças, nesta sociedade em que as dinâmicas são
democraticamente sujeitas a forças de sentidos vários e com desígnios tão
misteriosos a olho nú. A ver vamos no que vai dando, sentidos bem alerta para
lermos as mudanças, os regressos, e irmos fintando essa impressão de que
somos só espectadores desatentos da vida que nos condiciona o percurso no
sistema. Usemos todos os sentidos de que dispomos para alimentarmos as
sinapses a que temos direito. Vão ver como, no fim, mesmo que não tenhamos
gostado do espectáculo, sairemos contentes por termos a nossa própria opinião e
sermos donos da vontade de assistir, talvez até noutro lugar, à sequela.