26.3.19

Embirrações e Birras

Vou voltar à “manif” do #FazPeloClima no dia da greve às aulas dos miúdos das escolas. Não que pretenda fazer deste assunto uma série, género tão do gosto leitor juvenil, mas normalmente de desgaste nas qualidades literárias entre o primeiro sucesso e as sequelas. Vou antes espreitar rapidamente algumas reacções, e acções, dos crescidos. É que as houve desde quem achou - e sim o “achismo” é uma deformação do direito à opinião tão popular como deseducativa – que o Ministério da Educação devia ter dado “tolerância de ponto” para que os alunos não tivessem que faltar a testes, o que é ou revelador de inconsciência sobre o papel das instituições e das funções de cada um num sistema, ou de um paternalismo socialmente lamentável; desde este “eu acho” até às declarações em artigos e crónicas de opinião em órgãos de Comunicação Social de impacto nacional, como o fizeram Vasco Pulido Valente e Manuela Ferreira Leite.

Respeito estes dois seniores do mundo público e político português, com quem pontualmente cruzo opiniões semelhantes, sobretudo quando expressam uma certa mundividência do comportamento humano (embora isso não garanta que se comportem efectivamente de acordo com o que dizem. o que é até pouco comprovável). Um ridicularizou a possível manipulação destes miúdos pelos adultos, a outra achou a iniciativa deseducativa, ambos alegando que os comportamentos desta jovem geração contradizem as palavras de ordem e, aqui até concordarei com Ferreira Leite, acusam terceiros antes de exercitarem e tirarem as devidas consequências do “mea culpa” obrigatório quando usamos o pronome pessoal “nós”. Esquecem-se, os sábios seniores, que não é da posição instalada de quem tem um megafone sempre à disposição, mesmo tendo vivido em épocas e eras onde o uso da palavra em público lhes era vedado, que podem ditar as formas de muitos outros expressarem o seu descontentamento e reclamarem os seus direitos. Bem sei que a alguns, e não só seniores asseguro-vos, chocará o uso de um certo palavreado que, dizem e eu percebo, descredibilizam as razões sérias da luta, mas habituem-se os que julgam que é fácil “educar as massas” sem que, em troca dos princípios tidos como bons, se conceda nalguma patine mal espalhada de efeito menos requintado. Destas opiniões críticas e bem argumentadas ficou certamente uma pista para o futuro e com que a geração que se manifestou no passado dia 15 vai ter que lidar: estão “entalados” quanto aos vossos comportamentos, com que se comprometeram ao afirmarem que estão disponíveis para “fazer pelo clima”. A palavra simpática seria “convocados”, a que resulta das opiniões dos sábios seniores foi mesmo “entalados”.        

Destas embirrações com a turba ululante dos miúdos, gostava ainda de mencionar três espécies do “género birra” de indivíduos graúdos com direito a holofotes directos, e a que assistimos na última semana. E todas elas pouco educativas e edificantes para a jovem geração que esteja a aprender o que é o comportamento em política, que foi o que fizeram quando saíram à rua organizados. Uma de transmissão mundial, outra nacional e a terceira, uma hipótese de birra talvez só leitura dos mais atentos ao mundo dos Partidos. A primeira vem do Parlamento britânico, na figura da senhora May, e que com o grave imbróglio do Brexit põe de rastos o que é o dever de honrar compromissos, quanto mais não seja o do respeito pelos prazos de “entrega de trabalhos” e que deixou de ser, afinal, um “deadline” que deixa incumpridores impunes. A segunda vem, da que foi mesmo chamada “birra”, do Primeiro Ministro português no último debate quinzenal na Assembleia da República, quando tentava explicar o óbvio a quem, obviamente, não soube lidar enquanto oposição, a não ser comportando-se como insurrectos que não querem saber do que se passa na aula, e provocando só porque sim. Como os alunos engraçadinhos, que põem o dedo no ar para fazer uma pergunta que nem é retórica, serve apenas o seu público, e que não pede resposta do professor mas gargalhadas e malabarices dos colegas. A terceira possível birra desconfio que aconteceu no CDS, com o jovem e promissor político Adolfo Mesquita Nunes, que se calhar zangado por não ter sido escolhido para lugar elegível na lista dos Eurodeputados às próximas eleições, saiu com o estrondo elegante – ele é elegante! – de quem diz “se não me escolheram vou ali e já volto, fazer a minha tropa para quando a guerra recomeçar”.

Enfim, três birras que aconteceram, ao contrário daqueles com quem alguns embirraram por causa da manif do ambiente, em meios onde circula gente que tem a voz sempre projectada por um megafone que anda ali por perto, e que bem devia pensar que todos estão a assistir e que “alguém” os está mesmo a ver. Para os primeiros tão deseducativas, para os outros, infelizmente mais raros, tão elucidativas.