Tudo quanto
se assemelhe a um conflito de interesses entre duas ou mais facções parece
extremar-se agora como se de uma declaração de guerra se tratasse. Não sei se
porque a “palavra de honra” parece ser uma espécie em vias de extinção... Se
porque quem se vê prejudicado pela falta desse tratamento com dignidade que
respeite a honra aprende a fazer igual e replique esse tipo de comportamento...
Não sei se esta ideia de que termos de ter autoestima passa por nos sentirmos
todos únicos (e até somos!) e, com isso, no direito de tratar o “todos” como
ninguém (não temos!)...
Certo é que
contra aquele que os encostados à Direita chamam um Governo encostado às
Esquerdas, extremistas e beligerantes, se têm assistido a inauditas propostas
de guerra. Saltam das trincheiras que pareciam lugares relativamente mais
seguros porque do outro lado a artilharia era, ainda assim, mais leve do que as
cargas devastadoras que antes sofriam, para se assanharem contra quem, ainda
que com algumas intermitências, por vezes partilharam objectivos comuns. Uma
confusão para quem assiste e tenta arrumar na sua cabeça os lados de uns e
outros e só consegue, às tantas, perceber que só há dois lados: o dos que estão
no Poder e o dos que lá queriam estar. Sendo que alguns já só têm interesse em
ter o Poder de estar a comandar os que não estão no Poder. Enfim, o ambiente
social é de guerra e as ameaças à Vida chegam quando, neste contexto, as
frentes se degladiam nos cenários em que salvar vidas começa a estar em perigo.
Falo, está claro, da greve dos enfermeiros financiada por crowdfunding. Mas também das outras que, de arrastão, ameaçam
aproveitar a poeira do elefante...
Esta
modernaça forma de contestação laboral por parte de jovens sindicatos de
enfermeiros instigados por velhas raposas de guerras intestinas e declaradas a
tudo o que chateie e impeça a sua escalada social; ou seja, a greve cirúrgica
dos enfermeiros, veio injustamente denegrir a imagem de uma classe. É que como
nas guerras mesmo guerras, com tiros e mortos e devastação e tudo o que é mau,
ser um combatente não é a mesma coisa que ser um mercenário. Se procurarem uma
definição numa informal página da Internet, verão como essa palavra se aplica a
estes novos guerreiros. De uma forma geral, um mercenário é um soldado que trabalha a troco de soldos,
ou seja pagamentos, sem ligações patrióticas ou aos ideais por que luta, que é
o que quem faz greve em defesa dos seus direitos laborais é: não trabalha e não
recebe para demonstrar o quão séria é a sua luta. E repararão que, numa
extensão do sentido da palavra “mercenário”, esta também se aplica ao profissional
que trabalha visando apenas o lucro, sem se importar com as regras, a ética ou os
princípios impostos pela profissão que escolheu.
Eu não tenho
nada contra “os” enfermeiros, mas tenho muito contra estes enfermeiros. Não
enquanto técnicos, naturalmente, onde podem ser os melhores dos melhores, mas
enquanto membros de uma sociedade em que se consome de acordo com o que se
produz, e onde se nuns casos parece que produzimos mais do que aquilo que
consumimos, noutros será o contrário. Tem graça que há muito que não oiço
nenhum miúdo repetir como eu fui ensinada a pensar e a dizer que todas as
profissões são importantes. Será que há quem agora já ache que não é assim?
Parece-me um sinal de que o “todas” vai um dia mesmo transformar-se em “nenhuma”...