Já devo ter
dito antes que sou bisneta, filha e sobrinha de professoras, que o meu pai
trabalhou em sindicatos, que eu própria sou professora de eventuais futuros
professores e que já fui dirigente sindical, num dos que constituem a Fenprof.
E que fui encarregada de educação e membro, não só do que mais do que uma
direcção de um jardim de infância, como de associações de pais e encarregados
de educação. Pode dizer-se que conheço razoavelmente o meio da Educação, ou
melhor alguns dos subsistemas que constituem o que será sempre um sistema
educativo: um conjunto de elementos interdependentes com o objectivo de formar
um todo organizado. E porque há um elemento que se faz, e a quem fazem,
sobressair desse sistema, e que o contamina, não posso deixar de o tomar não
apenas como a parte mas sim como o todo que, nos pulverizados restantes movimentos
sindicais que representam os professores que assim anuem, defende os direitos
desta classe. Uma classe que já foi em tempos, talvez até à geração da minha
mãe, uma classe prestigiada.
Falo não do
prestígio que muitos, mas mesmo muitos, dos professores que conheço têm
individualmente reconhecido na sua comunidade escolar, mas da imagem da classe
como uma parte da sociedade pragmaticamente dividida em grupos profissionais e
de que Nogueira, sempre que fala, se apodera. Entendendo eu que no sindicalismo
se trata de Política, até mesmo quando demasiado partidarizada, questiono
também como a delimitação de mandatos, como prevenção destas perpetuações pouco
saudáveis, não chegou à Fenprof. É que o seu líder continua legitimado para
exercer com esbracejamento e vozearia radicais, tentando, pelo menos parece,
disfarçar a sua incompetência. E vê-lo à frente de uma turba que o segue imitando-o
não diz, dessa massa informe, grande coisa.
Ainda me lembro de há uns anos, ao vermos imagens de uma manif, um dos
meus filhos ter perguntado incrédulo se aquelas pessoas a fazerem aquilo eram
mesmo professores...
Sobre as
contestações dos professores em si mesmas, tenho uma opinião sobre o que há a
fazer, independentemente da cor de quem governa ou venha a governar. Que as
coisas se passem, independentemente também do nível de ensino em que se é
professor, de forma a que se aproximem de outras profissões da Função Pública,
mesmo sendo carreiras especiais. Que o progresso seja significativamente por
mérito, com todas as especificidades tidas em conta. É difícil encontrar uma
resposta que agrade a todos? É. É difícil evitar que se cometam por vezes algumas
injustiças? É. Mas mais difícil é assistir à degradação de uma classe cujos
membros estão tantas vezes mais tempo com os filhos de outros, que normalmente
até por isso lhes estão reconhecidos, e que não sendo professores dificilmente
perceberão porque quase só basta envelhecer para progredir até determinados
patamares numa carreira.
Nogueira
estará mesmo a candidatar-se à melhor imagem do definhamento do movimento
sindical? É o que parece ao colar-se mais ao PCP do que à profissão que quase
monopoliza como representante neste fim de legislatura em que os Partidos
começam os preparativos pré-eleitorais. E se os representantes dizem muito dos
representados, parece-me que uma amostra assim é fraudulenta, lançando mão,
para ter sucesso, do coro partidário, o que não será o melhor para um colectivo
profissional não uniformemente pintado da mesma cor e que se queira dignificar
perante outros.