12.6.18

Uma fraude chamada Nogueira


Já devo ter dito antes que sou bisneta, filha e sobrinha de professoras, que o meu pai trabalhou em sindicatos, que eu própria sou professora de eventuais futuros professores e que já fui dirigente sindical, num dos que constituem a Fenprof. E que fui encarregada de educação e membro, não só do que mais do que uma direcção de um jardim de infância, como de associações de pais e encarregados de educação. Pode dizer-se que conheço razoavelmente o meio da Educação, ou melhor alguns dos subsistemas que constituem o que será sempre um sistema educativo: um conjunto de elementos interdependentes com o objectivo de formar um todo organizado. E porque há um elemento que se faz, e a quem fazem, sobressair desse sistema, e que o contamina, não posso deixar de o tomar não apenas como a parte mas sim como o todo que, nos pulverizados restantes movimentos sindicais que representam os professores que assim anuem, defende os direitos desta classe. Uma classe que já foi em tempos, talvez até à geração da minha mãe, uma classe prestigiada.

Falo não do prestígio que muitos, mas mesmo muitos, dos professores que conheço têm individualmente reconhecido na sua comunidade escolar, mas da imagem da classe como uma parte da sociedade pragmaticamente dividida em grupos profissionais e de que Nogueira, sempre que fala, se apodera. Entendendo eu que no sindicalismo se trata de Política, até mesmo quando demasiado partidarizada, questiono também como a delimitação de mandatos, como prevenção destas perpetuações pouco saudáveis, não chegou à Fenprof. É que o seu líder continua legitimado para exercer com esbracejamento e vozearia radicais, tentando, pelo menos parece, disfarçar a sua incompetência. E vê-lo à frente de uma turba que o segue imitando-o não diz, dessa massa informe, grande coisa.  Ainda me lembro de há uns anos, ao vermos imagens de uma manif, um dos meus filhos ter perguntado incrédulo se aquelas pessoas a fazerem aquilo eram mesmo professores...

Sobre as contestações dos professores em si mesmas, tenho uma opinião sobre o que há a fazer, independentemente da cor de quem governa ou venha a governar. Que as coisas se passem, independentemente também do nível de ensino em que se é professor, de forma a que se aproximem de outras profissões da Função Pública, mesmo sendo carreiras especiais. Que o progresso seja significativamente por mérito, com todas as especificidades tidas em conta. É difícil encontrar uma resposta que agrade a todos? É. É difícil evitar que se cometam por vezes algumas injustiças? É. Mas mais difícil é assistir à degradação de uma classe cujos membros estão tantas vezes mais tempo com os filhos de outros, que normalmente até por isso lhes estão reconhecidos, e que não sendo professores dificilmente perceberão porque quase só basta envelhecer para progredir até determinados patamares numa carreira.

Nogueira estará mesmo a candidatar-se à melhor imagem do definhamento do movimento sindical? É o que parece ao colar-se mais ao PCP do que à profissão que quase monopoliza como representante neste fim de legislatura em que os Partidos começam os preparativos pré-eleitorais. E se os representantes dizem muito dos representados, parece-me que uma amostra assim é fraudulenta, lançando mão, para ter sucesso, do coro partidário, o que não será o melhor para um colectivo profissional não uniformemente pintado da mesma cor e que se queira dignificar perante outros.