5.6.18

Parem o mundo, eu quero descer!


Com as comemorações do Maio de 68 fomos tendo acesso a compilações das várias frases e expressões gritadas naquela época, pelas vozes ou paredes, entre as diferentes manifestações que rondaram o mês de Maio de há meio século. “Parem o mundo, eu quero descer!” foi uma delas.

O conceito de revolução define-a como uma transformação radical relativamente ao Passado imediato. A confusão parece residir no adjectivo que classifica o Passado contra o qual se faz a revolução: imediato. Vai-se a ver, transformando-se o imediatismo em Passado, com as voltas que o Mundo dá, vai não vai as coisas voltam a encaixar-se, mesmo se nunca exactamente da mesma maneira. Cabe a todos os cidadãos de uma Democracia, mas sobretudo aos políticos eleitos, ir cuidando para que as coisas não descambem demasiado para o imediatamente anterior à última revolução que foi feita e definiu a maneira diferente de se passarem a fazer as coisas. Coisas que dizem respeito a direitos e deveres de indivíduos e instituições.

Por outro lado, também podemos admitir que há determinados jogos de vários tabuleiros em que se movem adversários e concorrentes cujas regras, normalmente tidas como revestidas de uma certa lógica, coerência e limites que permitam o jogo continuar. E que são regras que permanecem  idênticas e só mudam de campo pela cor do peão com que se joga. Diremos aqui que faz parte do próprio jogo. Sair a meio do jogo pode ser tão mau como jogar muito mal quando se percebe desde logo que se é vencido. Mas, mais penoso do que tudo isto, é fazer de conta que se ganhou um novo élan num jogo em que se está a perder e fazer jogadas que, pela sua fraca qualidade, deitam abaixo qualquer vontade de continuar a assistir àquilo tudo.
Não estou a falar de futebol, não senhores! Falo sobretudo das últimas actuações da bancada do PSD na Assembleia da República. Temos assistido a uma triste figura dos que dentro deste Partido fazem oposição uns aos outros – os da bancada e os da sede nacional -  deixando de exercer uma oposição séria, necessária e útil a quem quer ver o Governo a governar. Será que não temos direito a questões relevantes e estamos condenados a ter, por mais um ano, políticos que parecem certos jornalistas que, na difícil tarefa de sobreviver na sua profissão, vendem à peça casinhos popularuchos para tablóides? Não estou a dizer que os casos que envolvem a ética de certos indivíduos não devam ser denunciados, e anunciados ou relatados por jornalistas. Nem digo também que os visados não resolvam, como tem mesmo de ser, esses casos, como se se tratassem não só de cidadãos comuns, como de gente que tem responsabilidades de servir de modelo. Mas para isso temos, de facto, a Comunicação Social e a Justiça, em tempos e modos que deviam ser distintos e separados. Não precisamos de que quem é eleito para legislar e fiscalizar a acção dos Governos ande assim entretido, como numa espécie de carrossel de feira. 
    
Poderemos sempre usar algum tempo para descobrir onde, noutras situações, esta intenção de fazer parar o mundo para um indivíduo sair se revela apenas e só uma verdade poética. É que nem o mundo pára, por mais importante que quem queira sair se ache saia, nem quem ache que sair é bom, arrependido ou farto e que resolveu apear-se do lugar onde se meteu ou o meteram, faz grande figura. É que, apesar de tudo, o Mundo move-se, com ou sem os que lá vão entrando, ficando ou saindo.