Com as
comemorações do Maio de 68 fomos tendo acesso a compilações das várias frases e
expressões gritadas naquela época, pelas vozes ou paredes, entre as diferentes
manifestações que rondaram o mês de Maio de há meio século. “Parem o mundo, eu
quero descer!” foi uma delas.
O conceito de
revolução define-a como uma transformação radical relativamente ao Passado
imediato. A confusão parece residir no adjectivo que classifica o Passado
contra o qual se faz a revolução: imediato. Vai-se a ver, transformando-se o
imediatismo em Passado, com as voltas que o Mundo dá, vai não vai as coisas
voltam a encaixar-se, mesmo se nunca exactamente da mesma maneira. Cabe a todos
os cidadãos de uma Democracia, mas sobretudo aos políticos eleitos, ir cuidando
para que as coisas não descambem demasiado para o imediatamente anterior à
última revolução que foi feita e definiu a maneira diferente de se passarem a
fazer as coisas. Coisas que dizem respeito a direitos e deveres de indivíduos e
instituições.
Por outro
lado, também podemos admitir que há determinados jogos de vários tabuleiros em
que se movem adversários e concorrentes cujas regras, normalmente tidas como
revestidas de uma certa lógica, coerência e limites que permitam o jogo
continuar. E que são regras que permanecem
idênticas e só mudam de campo pela cor do peão com que se joga. Diremos
aqui que faz parte do próprio jogo. Sair a meio do jogo pode ser tão mau como
jogar muito mal quando se percebe desde logo que se é vencido. Mas, mais penoso
do que tudo isto, é fazer de conta que se ganhou um novo élan num jogo em que se está a perder e fazer jogadas que, pela sua
fraca qualidade, deitam abaixo qualquer vontade de continuar a assistir àquilo
tudo.
Não estou a falar
de futebol, não senhores! Falo sobretudo das últimas actuações da bancada do
PSD na Assembleia da República. Temos assistido a uma triste figura dos que
dentro deste Partido fazem oposição uns aos outros – os da bancada e os da sede
nacional - deixando de exercer uma
oposição séria, necessária e útil a quem quer ver o Governo a governar. Será
que não temos direito a questões relevantes e estamos condenados a ter, por
mais um ano, políticos que parecem certos jornalistas que, na difícil tarefa de
sobreviver na sua profissão, vendem à peça casinhos popularuchos para
tablóides? Não estou a dizer que os casos que envolvem a ética de certos
indivíduos não devam ser denunciados, e anunciados ou relatados por
jornalistas. Nem digo também que os visados não resolvam, como tem mesmo de ser,
esses casos, como se se tratassem não só de cidadãos comuns, como de gente que
tem responsabilidades de servir de modelo. Mas para isso temos, de facto, a
Comunicação Social e a Justiça, em tempos e modos que deviam ser distintos e
separados. Não precisamos de que quem é eleito para legislar e fiscalizar a
acção dos Governos ande assim entretido, como numa espécie de carrossel de
feira.
Poderemos
sempre usar algum tempo para descobrir onde, noutras situações, esta intenção
de fazer parar o mundo para um indivíduo sair se revela apenas e só uma verdade
poética. É que nem o mundo pára, por mais importante que quem queira sair se
ache saia, nem quem ache que sair é bom, arrependido ou farto e que resolveu
apear-se do lugar onde se meteu ou o meteram, faz grande figura. É que, apesar
de tudo, o Mundo move-se, com ou sem os que lá vão entrando, ficando ou saindo.