Lembro-me de
um filme musical intitulado Hair que
retratava a alucinada década mundial de 60 , nomeadamente a alucinação por LSD
dos hippies e a do napalm no Vietnam, em que a canção Aquarius dizia qualquer
coisa como: quando a Lua estiver na sétima casa e Júpiter alinhar com Marte,
então a paz guiará os planetas e o amor conduzirá as estrelas.
Com este
relevante episódio do navio Aquarius na saga da migração para a Europa, também
eu tenho esperança que aquela que se designa como uma comunidade unida, ganhe
vergonha e se dedique ao trabalho político que esta matéria cíclica da história
da Humanidade requer.
Tive, não há
muito tempo, contacto com várias redes de Cidades que se juntavam por interesses
comuns. Trabalhando por uma política comum, ainda que atenta a especificidades de
cada um dos seus membros, tentava-se levar a cabo esse trabalho de maneira a
que essas características partilhadas fossem beneficiadas e servissem os
respectivos cidadãos. Algumas dessas Cidades teriam até ambições maiores do que
as práticas reais e vigentes que as faziam pertencer a esta ou aquela rede, mas
o objectivo era precisamente que esse comprometimento servisse para que, passo
a passo, se alcançasse a missão de o ser. À maneira da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, carta para alguns dos assinantes muito mais de intenções do
que de práticas em vigor.
A União
Europeia, para lá de um óbvio e omnipresente sistema financeiro-económico que a
deve sustentar, assenta na solidariedade entre os seus membros, mas não só, que
o próprio termo União que lhe está na génese determina. O assunto dos migrantes
– refugiados de uma situação humanamente insustentável – que procuram a Europa
merece mais do que dichotes entre chefes de Estado e de Partidos que compõem os
seus Estados membro. Merece deputados e comissários europeus empenhados,
atentos e incómodos para com aqueles Estados que não cumprem as regras básicas
da Comunidade a que pertencem. Não basta criticar algumas atitudes dos que são
constantemente chamados a abrir portas a todos quantos lhes caiam
semi-inanimados nos braços, muitas vezes e só porque geograficamente é neles
que está o acesso mais fácil. Não basta criticar os que impõem regras mais
apertadas porque as suas situações económicas se tornam mais atraentes para
receber novas gerações de um fluxo migratório tradicional.
Importa, não
apenas evitar cuidadosamente os que sem escrúpulos se aproveitam da fragilidade
dos recém-chegados, e falo dos traficantes de seres humanos para fins vários,
como importa ajudar os que tendo muitas condições e boas intenções para receber
refugiados e/ou migrantes não têm os atractivos que os fazem permanecer e
juntar-se a uma comunidade aumentando-a e enriquecendo-a, sem serem criadas
descriminações geradoras de conflito. Não há-de ser fácil – ninguém terá dito
que era – mas não deverá ser impossível se o fim for nobre, positivo, humano e
os processos não se desviarem desses portos, independentemente da dureza da
rota. Oxalá este episódio do Aquarius como numa história bem contada que faz
nela mergulhar leitores à procura de um final feliz, represente o início de uma
nova Era. Afinal, foi assim com os Livros que fizeram tantos ligarem-se em
torno de Um.