Não vou falar
de nomes e não é porque ache que sejam todos iguais os que partilham com os
mais ouvidos, pelas piores razões, as actividades públicas. É antes porque sou
de opinião de que os nomes toldam o verdadeiro assunto político, o que deveria
merecer a atenção dos cidadãos interessados. E o assunto é: exercer cargos
públicos continuando a tratar da sua vidinha. Seria, no entanto, ingénuo pensar
que o facto de estes assuntos, por surgirem assim fulanizados, terem sido
levantados e afanosamente mantidos em discussão e alarde por alguns, não só não
os ilibe de se verem um dia na mesma situação, como ter unicamente como intenção
repor a ordem das coisas. Ainda pensei em adjectivar essa ordem com, por
exemplo, “normal” ou “natural”, mas nenhum deles me descansou sobre se lhe
conferiria um sentido literal ou se alimentaria o mau uso do adjectivo ou até
do próprio substantivo, “ordem”, usado neste contexto.
Não sendo,
pois, uma crónica sobre casos de outros, está chegada a oportunidade de falar
do meu caso (de resto, título de uma peça de teatro escrita por José Régio cuja
leitura aconselho vivamente, para além da mais mediática adaptação feita por
Manoel de Oliveira ao cinema, porque nos põe a todos a pensar nos papéis que
ocupamos no teatro social). Queria pois contar-vos um pequeno detalhe do meu
percurso enquanto vereadora com pelouros atribuídos. A nota que vos dou é
propositadamente curta, permitindo-vos que retirem, das parcas palavras que
usarei, as vossas conclusões.
Tive
responsabilidades na empresa municipal que geria o estacionamento na Cidade.
Várias vezes usei o meu próprio carro para me deslocar em representação
oficial. Na impossibilidade de estacionar bem o carro, deixei-o algumas vezes em situação não regular,
tendo o cuidado de nunca o fazer em lugares destinados a utentes com mobilidade
reduzida. Nunca fui, por isso, tão multada como quando era a gestora da
empresa. Paguei todas as multas, com as mesmas diligências com que recebi e
pedi que se respondesse a quem reclamava com as suas próprias multas. Com o
aproximar das eleições autárquicas, estas reclamações tornaram-se mais e mais
“em directo”. De cada vez que contava ou que contavam “o meu caso”, por mais do
que uma vez, a resposta de quem reclamava foi:” Vocês, nem para vocês são bons!
Vão perder as eleições!”. E mais não acrescento, porque o resto da história é
pública.
O termo
“sustentabilidade” arrisca-se a cair na banalidade de outras expressões como o
“populismo”, o “politicamente correcto” e até a “literacia”. Ainda assim,
nestes tempos que parecem aproximar-se perigosamente de certos retrocessos das
conquistas de 74, em meu entender por uso indevido e incompleto do sistema
democrático, aconselho os meus ouvintes e leitores, com quem partilharei o
gosto de poder ter acesso a todas as formas de comunicação de informação e
expressão de opinião a iniciarem um processo de selecção – do tipo que se faz na
reciclagem dos resíduos – no que por aí ouvem ou lêem, para continuarmos todos
a ouvir e a ler. E, já agora, a estarem atentos a determinadas medidas legislativas
que respondem a momentos e casos que enxameiam os vários canais de comunicação,
em vez de se preocuparem com o que verdadeiramente interessa à Sociedade, à
Política e, na minha convicção, ao progresso da Humanidade: a saúde da
Democracia.