A violência é
o que é e não há argumento que a desculpe. Podem compreender-se motivos, não
servem é estes como justificação para a legitimidade da agressão, nem retiram
aos agressores nem que seja a vergonha pessoal, ou pelo menos social, do acto
violento. Apesar das comemorações dos 50 anos do Maio de 68, onde a violência
de intelectuais ou candidatos a tal não deixou de ocorrer, apesar do anacrónico
momento fairytale vindo das ilhas
britânicas, aquilo de que todos falam ou ouvem falar e que se passou para cá do
Tejo, em Alcochete, não podia passar-me ao lado e, como tal, cá vão algumas
parcas (em palavras) reflexões sobre o assunto.
O direito de
as pessoas se associarem ou não está consagrado na nossa Constituição
democrática. Chegar a um extremo de denunciar esse direito na área dos que se juntam
em torno de outras associações onde o centro das actividades é o desporto
parece-me um sinal grave do populismo mais barato: soluções fáceis para
problemas difíceis e de abertura de precedentes descontrolados. E como está bom
de ver, claques existem em muitos mais sectores do que o do desporto. O que
acontece é que no desporto, sobretudo o futebol no contexto português (mas não
só), a visibilidade e o negócio em torno do ócio tem um peso imediato e visível
enorme, relativamente a outras actividades até muitas vezes mais decisivas no
que diz respeito à vida dos cidadãos (dos que gostam ou não de futebol).
As claques
são a face folclórica, no pior sentido do adjectivo, das cliques. As que agitam
pompons e tiram selfies. As que erguem punhos e envergam objectos e roupagens
com símbolos identificadores do motivo por que se comportam algo mais
histrionicamente e de modo desajustado noutros contextos, mas num comportamento
social civilizado e, logo, observando regras de civismo consensualizadas. E
mesmo quando a claque sobe de tom, dentro do ambiente onde é tido como
aceitável, nunca a violência poderá ser o limite aceitável.
Já as cliques
se definem como grupos de indivíduos que se relacionam entre si porque têm
interesses comuns. O relevantes nas cliques é que, por definição, elas permitem
que os seus membros circulem entre outras cliques de interesses diferentes
daquela clique em que, num determinado momento, actuam como pares exercendo as
pressões, pelos menos sociais, pelas quais são reconhecidas. E ele há cada
cruzamento de membros de cliques! Até custa a acreditar... Por vezes há até
membros de cliques que dão muito jeito por darem origem a boas claques onde, de
resto, igual número de vezes é o único contributo que trazem ao interesse até
público da clique em que se integram.
E depois há
os casuals. Estes são os que actuam
em nome de cliques e claques, que por estarem descaracterizados comprometem
precisamente quer as claques, quer as cliques. Juntam-se casualmente para
passarem a ter comportamentos que envergonham tudo o que seja identificado com
o conceito de organização, embora até também, normalmente, se apresentem
bastante organizados e coordenados. Vá-se lá saber é por quem! Este suado
esforço organizativo, origina, para além de sangue e lágrimas, muita tinta,
muito soundbyte, muito “achismo”.
Acabar com claques pode levar ao fim do direito de reunião e manifestação,
proibição de má memória. E isso é coisa para mim impensável, mesmo tendo já
sido alvo de uma certa violência, não física apesar de tudo, resultado de uma
certa sanha grupal, umas vezes de cliques outras até de claques.