Como vos propus, vamos concluir esta
tríade de crónicas sobre o mundo da política e de como ele depende muito da
comunicação e do uso das palavras no discurso, com todos os riscos de poder tornar-se
uma crónica com efeito boomerang,
risco de quem se predispõe ao escrutínio em espaço público.
Quem vive da comunicação como
profissão vive, naturalmente, com a
preocupação de tratar os assuntos para que sejam consumidos da forma mais
eficaz e não olhando, vezes demais, aos recursos utilizados e descurando o
impacto que a qualidade da informação possa ter na qualidade da vida cívica.
Discursos inflamados, engraçadinhos ou com chavões até à náusea fazem-nos
certos políticos em campanhas eleitorais, tornando-as tantas vezes risíveis;
discursos elípticos, ambíguos, com equívocos, a comunicação social trata de os
fazer com maior ou menor habilidade; os discursos muito pormenorizados, em
geral, os governantes evitam-nos, primeiro porque têm mais que fazer, depois
porque sabem do perigo de um deslize; já as oposições refinam métodos e meios
para que nunca se deixe de fazer os vários tipos de discurso: o uso dos
detalhes e das insinuações numa mistura com as generalizações apocalípticas que
oscilam entre o fait-divers e a boutade. Resta, então, aos muitos mais
que não são nem uma coisa nem outras, escolher estar atentos ou estarem-se nas
tintas quanto ao teor da informação que lhes chega.
Por muito que os actos e as medidas
de quem governa é que, de facto, interfiram com a vida dos cidadãos, estes
actos e medidas vêm acompanhados, como numa máquina que é usada por quem não a
fabricou, de uma espécie de manual de instruções em forma de declarações ou
discursos. Ora, como tantas vezes acontece nesse mundo industrial e dos
negócios, e com a péssima qualidade das
traduções desses manuais de instruções, há muitas notícias que dificilmente nos
ajudam a funcionar com a realidade de forma a compreendermos bem como usá-la. É
assim que tantas notícias que estão na secção da informação podiam era estar na
de opinião ou propaganda. Mas é também assim que muitos se põem a jeito, porque
lhes dá jeito, para serem lidos desta forma.
Se nas duas últimas semanas o teor –
conteúdo e tom – do discurso político pelos comentadores foram o alvo das
minhas reflexões, esta semana centro-me na dos próprios actores principais da
política, e da local, não sem antes colocar algumas perguntas. Quando os
cidadãos votam, será que o fazem depois de avaliarem as propostas governativas
ou porque avaliam as práticas já exercidas? E quando avaliam o passado, será
que se lembram de tudo e relacionam todas as condicionantes para o avaliarem ou
só se lembram do que lhes diz directamente respeito ou do que acabou de
acontecer, que lhes agradou ou não? E quantos de nós nos lembramos dos
discursos – não a prometer mas a acusar - disto ou daquilo aqueles de quem nos
queremos distinguir? Às vezes põem-se a voar papagaios que, mais do que
ganharem altura e voarem controlados pelos fios que lhes demos, voam à solta.
Os fios, transparentes e resistentes, nunca parecem lá ter estado e por isso dá
para fazerem de conta que lá continuam…
Recordo-me de um episódio que vivi,
em torno da piada que se diz a propósito do assunto que se quer menosprezar,
para ilustrar como certas palavras ou uso delas, mesmo tão influentes, se
perdem ou apagam quando a responsabilidade do fazer se sobrepõe à do dizer: se
achei graça quando em 2010 tinha responsabilidades executivas e aconteceu um
festival de música pop que a oposição baptizou com humor “festival da rotunda”,
não posso deixar de seguir a mesma onda de bonomia e ser a minha vez de falar
do “cinema do canteiro” que promete nascer em Évora em 2016 pela mão da então
mesma oposição e agora executivo. E é bom de ver como este tipo de conversa,
por mais divertida que seja, não explica nada às pessoas sobre as
circunstâncias em que surgem propostas e problemas.
Recordo-vos o que disse o escritor e pensador: «Afirma com energia o
disparate que quiseres, e acabarás por encontrar quem acredite em ti.» E é
disto que vamos ter de nos ir livrando, ok? Como? O ambiente comunicacional das
redes sociais pode ser o princípio, mas a solução parece-me que está só num
lugar: na Educação.