O show off pode
traduzir-se por exibicionismo, ou o armar-se em algo que se não é, sendo muitas
vezes usado para ações que se alardeiam mais pela forma do que pelo conteúdo
das mesmas. Mutatis mutandis o show off cheira a propaganda.
Traz-me a ele uma notícia de órgão oficial da CMÉvora, já com
um par de semanas em cima, e que acompanhada de expressivas fotos sobre o
acontecimento, diz assim, ipsis verbis:
«A Câmara Municipal de Évora, a Direção Regional de Cultura do Alentejo e a
Óptica Havaneza assinaram esta manhã (11 de março) um protocolo de cooperação
com vista à intervenção nos arcos da Rua da República cujos pilares apresentam
deficientes condições de conservação, fazendo perigar a integridade física dos
cidadãos que aí circulam diariamente. Neste protocolo, que foi assinado por
Carlos Pinto de Sá, Ana Paula Amendoeira e Francisco Bolas, respetivamente,
ficou estabelecido que a empresa Óptica Havaneza irá executar física e
financeiramente a intervenção de consolidação e promover os estudos necessários
à intervenção de conservação global do edifício. A Câmara Municipal de Évora,
por seu turno, compromete-se a aprovar, com a necessária celeridade, o projeto
de arquitetura desta intervenção, enquanto a Direção Regional de Cultura do
Alentejo [DRCALEN] irá designar um técnico especialista para elaboração do
projeto de arquitetura destinado à consolidação/contenção do conjunto dos arcos
e alvenarias da fachada principal da Óptica Havaneza, proceder ao
acompanhamento técnico da intervenção de consolidação, obter, nos termos legais
e com a necessária celeridade, o parecer favorável da Direção-Geral do
Património Cultural relativamente ao projeto a executar e apoiar, dentro das
suas atribuições e competências, a Óptica Havaneza nos estudos e projetos destinados
à intervenção de conservação global de todo o edifício. A assinatura deste
protocolo de cooperação, que teve lugar no Gabinete do Presidente da CME,
reveste-se de uma extrema importância uma vez que é necessária uma intervenção
urgente de consolidação do referido pilar e respetivos arcos da fachada
principal de modo a garantir-se a sua estabilidade e funcionalidade.»
Sobre esta notícia importa colocarmo-nos algumas questões, já
agora retóricas, porque conseguimos bem adivinhar as respostas. Ora então, cá
vão: Este foi o primeiro de muitos protocolos a assinar entre a CME, a DRCALEN
e os privados proprietários do Centro Histórico (CH) classificado,
relativamente a obras necessárias a realizar nos edifícios degradados? Se
alguma das duas entidades públicas, e talvez até o privado, que assinaram este
protocolo estão, com esta assinatura, a fazer mais do que as obrigações e
competências que têm neste assunto? Nomeadamente: a CME não deve aprovar os
projetos em tempo útil para obras urgentes? A DRCALEN não deve acompanhar uma
intervenção especializada num sítio classificado, do princípio à conclusão da
intervenção e “obter, nos termos legais e com a necessária celeridade, o
parecer favorável da Direção-Geral do Património Cultural”? E o privado, com
todas as implicações legais a que está com isso obrigado, não deverá cuidar do
seu património? (De facto, nem todos o fazem e, por isso até, pode ser tomado
como exemplo de civismo. Ele é, apesar de tudo, o único digno de notícia, por
querer e poder fazer a sua obrigação de proprietário.) Mas mais ainda: este
protocolo significa que, daqui para a frente, qualquer proprietário de um
edifício a necessitar de eventuais obras, que a não serem feitas mais cedo ou
mais tarde constituem ou podem vir a constituir um risco público, deve
dirigir-se à CME e à DRECALEN para solicitar a assinatura de um protocolo e ver
o seu processo agilizado? E qualquer proprietário do concelho de Évora, não
residente no CH, que tenha submetido projeto não terá o mesmo tratamento no que
diz respeito à aprovação “com a necessária celeridade” do projeto de
arquitetura por parte da CME e/ou outras instituições públicas que legalmente
têm intervenção no processo?
O que é esta assinatura de protocolo, com direito a notícia,
se não um admirável e escandaloso ato de show
off ? E já agora, porque não assinam um protocolo a deixar escrito para a
posteridade que, depois da Feira de São João, o estaleiro que dá apoio aos
serviços operacionais no recinto deve ser desmontado e não permanecer por lá, como
quem não quer a coisa, até à edição seguinte? Sim, está ali o estaleiro,
naquele cantinho do Rossio, em frente à escola, encostado à patrimonial muralha
a dar-lhe um ar de trastero que é o
que os espanhóis chamam às arrecadações.
Palpita-me que regressarei mais do que só esta vez a este
estrangeirismo, o show off, talvez
até já fora desta série de estrangeirismos. Palpita-me.