Ir ou não ir
à feira parece ter-se tornado um assunto de discussão pública. Isto entre
“achismos”, ovações e pateadas, como é useira e vezeira a voz na praça pública,
levando a exaltações que nos ensurdecem para explicações ponderadas e de quem
percebe da poda, de quem tem visão para lá do aqui e agora e do que está à
volta do seu umbigo. Apesar de viver nesta região privilegiada da agricultura,
neste lugar onde os quase-druídas da singela ervinha fazem o melhor acepipe e
se deixa deliciado e aguado o estreante, repetente ou veterano de maratonas
gastronómicas, exemplo excelente da patrimonializada dieta mediterrânica, não
tenho nem a lavoura nem a restauração como negócio, passando até o ócio só pelos
vasinhos de aromáticas no parapeito e pelos petiscos de quando em vez. Mas uma
exposição mundial sobre alimentação, parece-me uma ocasião feita de propósito
para nós, portugueses, de quem os governantes dizem precisarmos, e concordo
inteiramente, que se faça diplomacia económica para exportarmos o que de melhor
temos.
Estranho
muito a decisão da não ida a Milão, como aplaudi a ida do cacilheiro da Joana
de Vasconcelos a Veneza que, embora tenha beneficiado muitíssimo mais uma só
pessoa, a própria Joana Vasconcelos que provou merece-lo pelo êxito que foi,
proporcionou no tombadilho do Trafaria Praia que incluía um palco, a promoção da
cultura portuguesa através de eventos dirigidos ao tipo de público que visitava
a Bienal de Veneza, e com um a programação diária que ia desde mesas-redondas
com agentes da cena artística portuguesa, até aos concertos com músicos
portugueses e convidados de correntes musicais variadas, desde o clássico fado
à experimental eletrónica.
É certo que
ir à feira ao estilo do “fazer presenças” do famoso do Big Brother em discoteca
de província não me parece grande investimento. Também por isso, quando vamos
às feiras, enquanto visitantes e possíveis clientes, esperamos encontrar um pouco
mais do que a foto do cenário, o panfleto e alguém à espera que lhe façam
perguntas. E mesmo que os brindes pareçam ser uma mercadoria apetecida, por
quem os distribui e por quem os coleciona, e que haja cada vez mais aqueles que
“pintam a manta” para serem diferentes do banal, certo é que o marketing é todo um universo onde a
imaginação e a criatividade podem ser postas a funcionar e revelam bem quem o
faz, bem ou mal feito.
O marketing, em sentido estrito, é o conjunto de técnicas e métodos
destinados ao desenvolvimento das vendas, e nele trabalha-se, muito
provavelmente entre muitas outras áreas, os preços, as questões da distribuição,
a essencial e pluriforme comunicação e, já agora, também o próprio produto que
se quer vender. Mas o marketing é
também um processo social, no qual uns obtêm o que necessitam e desejam através
da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros. Em marketing, o valor pode-se definir como os
benefícios gerados para o cliente em razão do seu sacrifício em adquirir um
produto ou serviço. Oferecer ou agregar valor é um conceito diretamente
relacionado com a satisfação do cliente, e diz-se que é este um dos principais
objetivos do marketing já que quem
trabalha em marketing esforça-se para
determinar quais são, então, as necessidades e desejos dos consumidores. Ora,
quando tão naturalmente e com o toque português vamos tendo tanto e tão bom
para dar a comer a esse mundo, o que não deverá faltar em Milão a partir do mês
de maio e durante seis meses, seria oportunidade de termos cada vez mais
apreciadores, importadores e investidores. Ou estamos em maré de podermos dizer
que o que temos nos basta para continuarmos assim, muito simples e pequeninos e
dizer: «Está booooom!»?