3.12.13

“Natalicidade”

Hoje, primeira crónica de dezembro, mês do Natal, falarei um pouco sobre a felicidade que nos vem de pequenas grandes coisas, como por exemplo as iluminações da quadra nas ruas. A inspiração chegou com as palavras do autarca de Lisboa que, na concorrida, festiva e mediática inauguração das iluminações de Natal na Baixa, afirmou que a pior medida de poupança que tinha feito, há dois anos, teria sido nas luminárias natalícias, alegando que estes momentos de felicidade são não apenas bons para os cidadãos, como para o comércio daquela zona. Devo dizer que concordo. Que o ambiente influencia as pessoas e que coisas bonitas à nossa volta fazem-nos, pelo menos tentar, ser mais harmoniosos com essa beleza.
Mas também concordo com Lincoln que a meio do século XIX na América terá dito que «A maioria das pessoas é tão feliz quanto resolve ser». Ou seja, se este ano sobre as luzes se achará que nos põem mais felizes, noutros houve, e se calhar voltará a haver, em que nos incomodam por representarem um luxo a que não temos direito porque algures no tempo haveremos de ter o dever de o pagar. Enfim, a cena do velho, do rapaz e do burro (português já agora que estão na moda) que é tentar agradar a todas as vozes que palpitam no espaço público em geral.
Reza a história feita de fait-divers que no final de 1880 Thomas Edison, contente com o bom funcionamento das suas lâmpadas incandescentes, estava à procura de maneira de propagandeá-las quando resolveu celebrar o Natal pondo lâmpadas incandescentes à volta do seu laboratório, recuperando uma tradição (sem eletricidade) do norte da Europa. Dois anos mais tarde, um colega de Edison, chamado Edward Johnson, exibiu a primeira árvore de Natal eletricamente iluminada na sua casa em Manhattan. A iluminação nesta quadra começou então como forma de atrair pessoas, mas também como um gesto de celebração, e mantém-se assim até hoje, tendo-se espalhado pelo mundo ocidental ou ocidentalizado.
De uma conjugação entre o público e o privado, este interesse comum acaba por ter, nas cidades, vilas e aldeias, envolvimentos diferentes. Cabe normalmente às Câmaras Municipais a iniciativa, e respetivo orçamento, de iluminar e animar as ruas, cabendo aos comerciantes, os que beneficiarão com a atração de mais pessoas aos locais iluminados e animados, manter as lojas abertas em horários alargados e promovendo o que nelas vendem.
Tive alguma intervenção no Natal de Évora nos anos 2010, 11 e 12, já que no primeiro ano da minha vereação, tudo já estava preparado para que decorresse como decorreu. Em 2010 com o orçamento rapadíssimo para estas iniciativas de iluminação festiva lá se fez uma versão low cost. Mas em 2011, repetindo-se em 2012, fomos encontrando maneira de, com meios internos, assinalar a data e aquecer o ambiente. Houve inclusivamente uma tentativa de, em conjunto com os comerciantes através da Associação Comercial do distrito, ajudar quem normalmente não podendo dar-se a extras, no Natal pudesse ter vales que usando no comércio tradicional o permitisse. Não resultou, já que poucos comerciantes aderiram.
É aliás um sintoma do que se foi criando num certo comércio dito tradicional, que todos se acham na obrigação, eu inclusive, de ir apoiando. E o que se verifica é que, continuando a lamentar-se do pouco negócio pelo esvaziamento não só dos bolsos mas também das ruas, não só algumas cidades vão permanecendo na rotina que não assinala a época como em épocas mais fartas dos poderes públicos, como não se assiste a nenhuma reação proactiva por parte desses interessados, alguns comerciantes com honrosas exceções, que parecem afinal pouco interessados, em contribuir no que, contas feitas, só podia reverter em seu favor. Mistérios…