28.12.13

Assuntos da Câmara I

Declaração de voto sobre as Grandes Opções do Plano e o Orçamento Municipal 2014. Reunião pública extraordinária de 20 de dezembro de 2013.

Um orçamento é um instrumento previsional de gestão que, quando definidas de forma clara e objetiva quais as áreas em que é possível realizar receita e cumprir despesa, deixa entrever as linhas políticas de quem propõe esse instrumento técnico. Os vereadores do PS estão conscientes das dificuldades que, agravadas a partir de 2011, têm condicionado a governação desta Câmara Municipal de Évora. Não só mas sobretudo pelas condições conjunturais que impedem a realização de receita, pela impossibilidade de recorrer a empréstimos à banca, pelos cortes que têm vindo a ser efetuados do orçamento geral do Estado para as autarquias, pelas dívidas que há mais de 30 anos foram sendo contraídas para, naturalmente, cumprir compromissos votados e assumidos pelos sucessivos executivos.
Neste orçamento dá-se sobretudo, ao olhar político, sugestões de manutenção de atividades propostas, iniciadas e desenvolvidas pelo executivo anterior, apenas enroupadas por uma linguagem muito própria, com a qual não nos revemos e onde, julgamos, apenas uma parte dos Eborenses se revê. Porque, nesse sentido, é um orçamento que deixa prever a manutenção de linhas implementadas pelo executivo anterior, nas respostas à área da educação e no caminho da coesão social, frágil nestes tempos, iremos abster-nos na sua votação.  
Não nos tendo sido apresentada nenhuma proposta de modelo do OM para 2014 ou até as linhas gerais da sua realização, o que tem sido até agora prática habitual, este tornou-se o orçamento menos participado, a nível político, dos últimos 12 anos em Évora. Ao não fazer mais do que cumprir ao mínimo, e sem prazo razoável, o estatuto do direito de oposição, convocando-a para o próprio dia e a poucas horas da RPC em que é dado à discussão este documento, não nos permitiu o executivo CDU, que fizéssemos alguma proposta que tivesse a intenção de ser levada à prática.
Ainda assim, nesta única reunião de Câmara sobre o assunto, não queríamos deixar de expor o que julgamos se prende precisamente com um princípio de governação. Teríamos proposto, assim, que se implementasse, desde já a partir do orçamento para 2014, a prática do orçamento participado. Podendo este caminho ser feito optando, de entre os vários modelos que existem, por aquele que de forma mais ágil e exequível permitisse a equidade das propostas a que as diferentes instituições e agentes se fossem habituando a construir, e escolhidas depois pelos munícipes, preferencialmente com uma distribuição também equitativa pelo território do concelho. Teria sido esta, por exemplo, uma proposta mais correta para com as freguesias. Mais do que propor-lhes apresentarem propostas de investimentos sem nenhum “plafond” indicativo e com exigências de detalhes que os quadros técnicos que constituem as juntas de freguesia não têm ainda competência, nem obrigação de a ter, para as realizar, fazendo-as sentir-se a entrar num mundo ilusório onde do nada ao tudo, qualquer coisa parece possível.
As metodologias de participação que lemos na proposta elencam seis programas de contornos vagos, em que apenas a proposta intitulada «reivindicações ao poder central» parece ser a já posta em prática, seguindo uma tendência não só histórica dos governos locais da CDU, como um reflexo do real estado do desespero dos cidadãos em geral no grave período de depressão que atravessamos. Não vemos, no entanto, referência direta a uma forma de participação que estava a ser implementada, seguindo a legislação, pelo Conselho Municipal de Juventude, sendo uma forma de começar desde logo em órgãos próprios a promover essa participação. Não encontrámos nesta proposta o reflexo dessa prática, legislada, ou a intenção concreta de a realizar.
Finalmente, não queríamos deixar de assinalar que há neste orçamento referência por parte da CDU, agora na governação, às faturas da Gesamb, a par da referência, habitual na discussão dos pelo menos dois últimos orçamentos, às faturas das Águas do Centro Alentejo[1] (p. 38) Constantemente acusados nos últimos anos de uma má opção que foi a que à partida parecia a melhor para resolver o problema da água às populações no concelho de Évora, o PS de facto resolveu-os. Fica aqui assumido, neste OM 2014 que também a opção do tratamento de resíduos sólidos, tomada por executivos da CDU, não está a ser melhor para a saúde financeira da Câmara Municipal.



[1] «As receitas da água e do saneamento são claramente insuficientes para pagar a fatura
das Águas do Centro Alentejo, assim como as receitas provenientes dos resíduos sólidos
são insuficientes para pagar a fatura da Gesamb.»