15.10.13

Rentrée

Eis-nos de volta às crónicas, num momento em que as rentrées estão todas feitas. Na realidade são só duas: a dos partidos políticos e a verdadeira que é a escolar, bem mais abrangente e influente na vida do dia-a-dia dos cidadãos, mesmo os que não são diretamente nela envolvidos. Um lugar muda quando mudam os ritmos das pessoas que nele vivem.

Fiquei contente com o renovar do convite da Diana. Acho que é uma honra esta oportunidade que me tem dado de ocupar um espaço público de opinião, numa rádio que tem na pluralidade um princípio basilar à vista, ou melhor ao ouvido, de quem a sintonize. Numa época em que, felizmente, toda a gente pode dizer o que pensa, em circuitos mais ou menos fechados, e muito também graças a esses outros espaços de comunicação sem intermediários que são as redes sociais, nunca uma opinião pôde ser tão lida ou ouvida como nos tempos que correm.

Também é verdade que muito do que fica dito e escrito nestas crónicas de opinião não ficará para a história dos aforismos e citações, como aquelas que também vemos circular por aí, por vezes até com duvidosa certificação da origem. Também por isso as crónicas se adaptam ao tempo médio da capacidade humana em prestar atenção ao que é dito, e o ritmo dos dias é, mesmo no interior do país, condicionante dessa capacidade.

Se já fiz uma série de crónicas com provérbios como mote, e outra com verbos como inspiração, esta nova série vai ter precisamente as citações de gente que sobrevive nelas a dar o tom. É uma espécie de “como diz o outro” a propósito de um tema com que nos cruzamos ao longo das semanas. Mas é também uma maneira de poder opinar sobre pensamentos que, assim descontextualizados do seu momento e contexto primordiais, podem ganhar novos sentidos. Shakespeare terá afirmado mesmo que «o êxito de um bom dito depende mais do ouvido que o escuta do que da boca que o diz.»

Fazer reviver assim as palavras que já foram ditas é, no fundo, devolver ao seu autor a responsabilidade da sua autoria. Tudo isto com o devido desconto de, ao valorizarmos as palavras de quem conquistou através delas uma espécie de eternidade, cobrar o troco de não se apagar o diálogo que a mortalidade interrompe.


As minhas crónicas serão, pois, sobre citações de gente que, não estando no mundo dos vivos, se mantém por cá. Mas não será de admirar que, uma outra vez, cite gente que anda aí no ativo e que pensa que, pelas palavras lhes serem leves, haverá quem não as escute e, mais uma vez, eu lhes cobre pelo valor que têm ou acho que deviam ter. 
(crónica de dia 1 de outubro)