15.10.13

A Diferença

Para os mais atentos às questões da educação, é visível o inconformismo de pais e mães de crianças com necessidades educativas especiais neste início de ano letivo. Ao que parece, a grande maioria destes alunos começaram o ano sem professores de apoio ou técnicos especializados para as terapias, criando-se um claro sentimento, nos encarregados de educação, de uma ainda maior exclusão.

Évora pode orgulhar-se q.b. de entre 2010 e 2013 ter permitido que estes alunos, que frequentavam o agrupamento vocacionado para estes casos, pudessem como enriquecimento curricular frequentar atividades proporcionadas por uma parceria entre a entidade promotora das chamadas AEC’s, a Câmara Municipal, e as associações locais com esta área de intervenção. Mas também as alterações introduzidas neste ano letivo, inviabilizaram esta oferta formativa que tornava a escola pública como um real local de inclusão a vários níveis.

Uma escola pública inclusiva não trata todos por igual, mas oferece a cada aluno a possibilidade de, de facto, atingir o objetivo primordial de quem vai à escola: aprender. Cada profissional do ensino reconhece em cada aluno que lhe vai passando pelas salas de aula qual o melhor caminho para o levar à concretização desse objetivo. E o que é certo é que, para alguns, os caminhos a percorrer são especiais e por isso necessitam de técnicas e acompanhamento também especiais. A diferença é isso mesmo. E a diferença é um conceito perigoso.

Também é sabido que há ministros e ministras, e governantes em geral, que no exercício da sua governação querem deixar a sua marca e fazer ou ser diferente. Às vezes levam isso tão adiante que acabam por deixar pior o que tanto criticavam. É verdade que não me lembro de nenhuma proposta eleitoral do atual governo para esta questão em particular do ensino especial. Mas lá que a diferença que este ministério está a fazer está a ser bem conseguida, lá isso está.


Vou citar Vergílio Ferreira, escritor e professor que passou e marcou Évora, e que falava assim da diferença: «Não és um homem normal. Isso te é uma inferioridade (ou uma superioridade?). Como em tudo o que é diferente. Cultiva a tua diferença. Mas uma diferença pode ser negativa. Esse é o teu drama. Porque a tua diferença vai além e fica aquém dos outros. Tu querias ser os outros no que lhes és inferior e ser diferente no que lhes és superior. Mas toda a superioridade se paga. Paga e não bufes.»