9.7.13

PROMETER IV

E voltámos a chegar ao fim de mais uma série de crónicas, com os ares do verão a empurrarem-nos para o ócio mais do que para o negócio. Este verão será novamente especial para quem vai a votos, quase ainda também no verão, força de um calendário empurrado, ao que parece, por um orçamento já aprovado, apesar do debate prometer ser quente em torno do mesmo. Enfim, todo o verão promete, inclusive o climatérico.

Prometer é pois, num balanço desta minissérie de crónicas, e sempre disponível para aceitar outras leituras, um verbo que serve sobretudo para insultar quem o pratica. Curiosamente, a sua não prática também. Ai do político que não prometa fazer isto ou aquilo, já que retira a esperança às pessoas…! Aliás, as pessoas precisam, com ou sem promessas, de soluções. Às vezes esquecem-se é que também fazem parte delas…

Depois há aquelas promessas que visam o negócio, mas o negócio mesmo e não aquela gestão que devia ser pública e que afinal só serve alguns. Mas essas promessas parecem fazer parte de um jogo com regras entendidas e subscritas entre quem vende e quem compra. Será por, nesses casos, poder haver lugar à devolução ou à troca? Mas num sistema democrático também, através das eleições! Será por haver livro de reclamações? Mas o espaço público também está aberto a várias plataformas e ferramentas para reclamar! Ou será porque de um negócio, ou na relação comercial, já estamos habituados a que o lucro maior vá sempre só para um dos lados, enquanto nas questões de governação democrática qualquer um pode ter-lhe acesso mas só alguns se submetem a lutas várias, confrontos díspares, internos e externos, entre inimigos e adversários, e tantas vezes para acabar, nessa arena, emprateleirado ou no anonimato?

Quando há quatro anos uma pessoa amiga me pintou um cenário apocalíptico da vida na política, confesso que fiquei surpreendida porque não era a inveja ou outro mau sentimento que a fazia falar. Não a contrariei nem me assustei, apenas a ouvi como ouvi sobretudo os mais chegados em cada nova etapa da minha vida, tipo casamento e maternidade, em que, qual ritual de iniciação, eram mais os avisos do que os parabéns de circunstância. Passados quatro anos, essa mesma pessoa percebeu que os dissabores que me prometia, e cá está este outro significado do verbo «prometer» que se aproxima mais do «avisar», eu já os devia conhecer e por isso apenas, e como teve significado para mim, me deu uma palavra, novamente sincera, de incentivo. Senti um pouco que aquilo que eu não lhe prometera há quatro anos, a fazia agora acreditar que o compromisso não me assusta e que não me tinha deixado arrastar para terrenos pantanosos.

Estes “avisos-promessa” são talvez os mais úteis que nos podem dar. São as cautelas, que como os caldos de galinha mal não fazem. São os alertas, que ao contrário dos “incentivos-promessa” nos fazem perceber que nem tudo o que luz é ouro e que não estamos para aventuras nem regressos ao passado que tão depressa esquecemos, às vezes, para mal dos nossos pecados. São os avisos-promessa que contam com o conhecimento que temos do que fazemos, que partilhamos com os outros, procurando no bom-senso dos outros o nosso senso e sentido para a ação. São estes avisos-promessa que eu vou querer ouvir e vou, quando assim for necessário, querer dizer àqueles que se comprometem comigo e com quem eu me comprometo. Vai ser assim o meu verão. Desejo-vos a todas e todos também um bom verão.