9.7.13

PROMETER III

Outra forma de prometer é o da reivindicação e da contestação, também em nome de um coletivo. Promete-se a luta, promete-se o não. Falo de reivindicações sem negociação, nem contrapartida. Falo de contestações sem ação proactiva e apenas como reação ao que indigna e nos parece que está mal. E por vezes está mesmo. Fica a prova não apenas em números ou estatísticas, mas em casos que conhecemos do dia-a-dia, ou da família até.

Essa promessa encapotada, na minha opinião, é a que faz da infelicidade dos outros um megafone para atrair até nós mais. E tantas vezes nós sabemos que quem empunha o megafone está a milhas de distância da dose de desgraça dos outros. Também é verdade que mesmo à escala e com todo o relativismo, quando se queixam em seu nome próprio se arriscam ao insulto dos que ainda têm forças para insultar. Nestes tempos que atravessamos assistimos muito, demais, a casos em que quem empunha o megafone não é menos malquisto do que os que são o alvo da contestação e revolta. Às tantas, nestes climas de guerra que se acirram, quem lá vai ou manda ir também se arrisca a apanhar uns balázios. Perigoso, muito perigoso. Não pelo medo da luta, nem de dar o peito às balas, mas quando à luta se juntam outros interesses e quando só na luta se encontra um modo de vida próprio e de que todos começam já a desconfiar.

Em casos mais distantes dos que reivindicam pelas necessidades básicas de um ser humano, a contestação assume nessa promessa encapotada uma espécie de amostra da demagogia que usa o «Não!» como único discurso de contrapoder e que rapidamente, quando se chega a um certo poder ou dá jeito, se esquece.

Nestes casos está a recém e disparatada, sobretudo pela forma como foi feita, reorganização das freguesias que levou, sob a capa da união, a uma óbvia extinção de algumas. Se algumas populações, sobretudo as mais distantes dos centros urbanos, onde essa distância já constitui uma dificuldade a vários níveis, se indignaram de facto, houve logo quem indignado pela medida, acima de tudo pouco democrática, já que ninguém fez dela uma promessa, aí está, eleitoral e por isso submetida a escrutínio popular. Resumindo, ninguém disse que se fosse governo extinguia freguesias, nem mesmo o que já deixaria entrever alguma mudança eventualmente de forma mais participada, algum tipo de reforma do género no território.
Enquanto uns continuam a enxamear de cartazes esse «Não!», prometendo afinal não sei o quê mais se não a luta em si, outros fizeram da luta uma contramedida e comprometem-se, prometendo claro, nas próximas eleições autárquicas que no caso das Uniões de Freguesias vão a votos dois cabeças de lista, e cada um de cada uma das freguesias que queremos manter assim mesmo, organizadas e prestadoras de um serviço que para quem vive à volta do Terreiro do Paço é coisa de somenos importância. É assim: uns prometem perpetuar a luta, outros comprometem-se a permitir às populações que o que vem de cima e não zela pelos seus interesses, também coletivos, não percam ainda mais condições que garantam, apesar de tudo o resto, o seu melhor bem-estar.