9.4.13

VENCER II

Vencer é também, e sobretudo, entendido como “ter êxito” e tem por sinónimo mais comum “ganhar” a um ou mais adversários. E digo adversários e não inimigos, muito embora o verbo se aplique aos dois. Digo-o e falo-vos aqui um pouco deste “vencer”, ao abrigo da máxima de Churchill. Diz-se que este político carismático, possuidor de fina ironia, numa visita de crianças ao parlamento quando, uma delas lhe perguntou se os seus inimigos se sentavam do outro lado (bancada da oposição), o Primeiro-Ministro britânico lhe terá respondido: "Do outro lado sentam-se os meus adversários.  Os meus inimigos sentam-se deste lado..."

Definir os lados pode parecer o mais básico e fácil, mas só quando se vê o mundo a preto e branco e se ajuízam as criaturas e as coisas como boas ou más. É essa a lógica que muitas vezes confunde teimosia ou fanatismo com coerência ou rigor de princípios. Também não me parece que todos tenhamos que ser muito amigos. Já o respeito e até certo ponto a tolerância, mesmo entre adversários, retiram esse rótulo de inimigos aos adversários. Adversários estão em lados opostos, relativamente a assuntos bem reconhecidos e podem colocar-se do mesmo lado noutros assuntos, igualmente bem definidos. Inimigos estão longe de poderem lutar juntos para vencer uma causa que até, à partida, os tornaria parceiros contra adversários comuns.

Se a mais comum das vezes se vencem adversários e se concluem contendas, dificilmente quando se vence um inimigo a guerra acaba. Fica para sempre, porque a base não é a da opinião ou de uma situação pontual que se dirime com armas à partida semelhantes, mas de sentimentos. Algo que, para o bem e para o mal, se enraíza mais fundo em cada indivíduo e molda assim a sua própria personalidade.

Também me parece que, como em tudo, há bons e maus inimigos, como bons e maus amigos. Ou seja, são tão maus inimigos que às vezes fazem tréguas nessa inimizade. Há até quem use a expressão “inimigo de estimação”, o que só de ouvir me faz logo sentir um cansaço imenso, numa atividade meia alucinada, mas pronto.

No fundo, no fundo, o que me parece a mim é que para “o vencer alguém ou algo” ser uma coisa limpa não tem de envolver sentimentos como o da amizade. Se há combates que colocam amigos como adversários, só a amizade muito forte lhes sobrevive. E às vezes isso pode acontecer, em política como noutro cenário qualquer. Julgo até que, quando a luta é limpa, esse seja o resultado mais comum. Aparentemente… Porque o que já questiono é se a palavra amizade se aplica assim tão facilmente a algumas, se não a maior parte, das relações… Mas como eu não sou dada a este tipo de resistência, mesmo com estes meus princípios que até a mim me parecem um bocado rígidos, quando me tratam por amiga tomo-o não como declaração de amizade, mas como uma forma cordial de tratamento que eu vou encaixando nos meus conceitos. Melhor do que me insultarem, já agora.

O meu coração não se deixa vencer pela alegria quando o substantivo amigo é de “encher” e o gesto e o ato não lhe correspondem. Mas também tento que não se encha de opostos, até porque isso nunca faria de mim uma vencedora, daquelas tipo resistente.