19.6.12

Tristezas não pagam dívidas

E aí está mais uma feira de São João. Sempre achei que gostaria de saber mais sobre esta feira que acompanho há 22 anos, mas da voz dos vivos e não apenas de artigos de cariz historiográfico ou etnográfico onde, claro, também se aprende muito. E tenho vindo a sabê-lo, da memória de pelo menos duas gerações: a minha e a anterior à minha. Mas como em tudo, até no mero relato do que é a vida em época da feira, a memória é seletiva e, felizmente, sobretudo ligada ao que era bom, eventualmente, até muito melhor do que é agora. O que também não é de admirar, porque quem começa a ter mais passado que futuro terá, natural e humanamente, uma nostalgia a influenciar-lhe adjetivos e verbos que usa para descrever e narrar a vida e o mundo.

O último texto com referências históricas que li sobre a feira reportava-se ao regimento da mesma, publicado em 1700. Uma espécie de edital da altura. E pasme, quem como eu não sabia, que ainda que tendo sido criada como uma feira franca, provavelmente em 1575, isto é uma feira onde nem os vendedores nem os compradores teriam de pagar portagem e impostos, a propósito do tal regimento do início do século XVIII se diz que «quanto às taxas a pagar pelo terrádego, estas variavam não só quanto às dimensões das tendas, mas também quanto aos objetos que estavam à venda». O que se passou naqueles 125 anos deve seguramente explicar esta alteração. Outro dado interessante foi o de que as feiras francas tiveram o seu auge no reinado de D. Dinis (séc. XIII-XIV) e que, durante o período das feiras existia uma paz especial, a chamada "paz da feira", que proibia todos os atos de hostilidade, sob severas penas, não hostis ou eventualmente aplicadas depois deste período, em caso de transgressão.

Mas continuando, o que eu gostava mesmo era de ter tido ecos de como teriam sido as feiras de São João entre 1914-18, ou entre 1939-45, períodos das duas grandes guerras e respetivos pós-guerra. É que me sinto, de facto, por vezes a entrar em momento semelhante a esses…

Sendo feira sinónimo não apenas de comércio mas também de lazer e divertimento, sendo a dívida o nosso inimigo, nesta espécie de guerra que vamos levando todos os dias esta poderá ser a semana da tal “paz de feira”, até porque se «tristezas não pagam dívidas», pode ser que as alegrias as enganem.

Divirtam-se e sejam felizes na feira.