9.11.11

A inveja produz injúria e gera ódio

Há dias fui assistir a um jogo de futebol entre juniores, em fase de preparação para o campeonato distrital. O jogo decorreu em concelho limítrofe a Évora e a esmagadora maioria dos adeptos era-o da equipa local. Confesso que o jogo da rapaziada me agradou. Não sendo propriamente fervorosa espectadora de futebol, já tive o privilégio de em 2004 assistir a um Portugal - Espanha ao vivo e, confesso, vim de lá muito mais impressionada com o espectáculo fora do relvado do que dentro. A quantidade de jogadores que, quando não tem a bola, pouco se mexe revelou-me uma realidade que as imagens de televisão, seguindo sempre a bola e quem a tem nos pés, não me deixavam perceber.

Também naquele sábado acabei por ficar muito mais impressionada com o espectáculo da meia centena de adeptos nas bancadas do que com o jogo. Mas muito mal impressionada. Presumo que em se tratando de jogadores adolescentes, 16-17 anos, muitos daqueles fossem pais ou familiares dos jogadores. Pois cheguei ao fim a pensar que aqueles pais não mereciam os filhos que ali estavam. Os insultos ao árbitro e juízes de linha (e fiquei a saber pelos moços que também aos próprios jogadores), com palavrões de fino recorte vicentino, foram tantos que eu duvido que algum dos rapazes que durante 90 minutos se esfalfaram a jogar à bola quisesse ser visto na companhia de tamanhos “malcriadões”, ainda para mais com idade para serem seus pais (e se calhar eram!). Por outro lado, a impassibilidade dos insultados deixou-me satisfeita e até, confesso, um bocadinho vingada. Eu explico.

Sendo politicamente activa há 2 anos, em cargo com poder executivo, o que me dá direito a ser insultada quer individualmente, quer quando metida no “saco” de todos os políticos, aquele confronto com juízes e árbitros fez nascer em mim uma enorme onda de solidariedade para quem como aqueles homens se prestam a uma actividade que tem tanto de útil como de impopular. Um verdadeiro serviço público em prol da existência, gostemos ou não, do decorrer daqueles 90 minutos. Levando mais longe as minhas meditações, perguntava-me até se não seria a inveja de não estarem ali, dentro das 4 linhas em vez de estarem nas bancadas a beber umas “minis”, que os faria ser tão activos na verborreia insultuosa. O que o Povo diz sobre estas manifestações é que “a inveja produz injúria e gera ódio” e eu acho que a coisa não deve andar longe disso.

De maneira que, tal como aqueles senhores árbitros que, quando lhe vestem assumida e empenhadamente a pele, se transfiguram e passam a ser motivo de insulto, sinto que quem se preocupa com os destinos de uma comunidade, optando ou propondo rumos na sua governação, exercendo por isso actividade política efectiva, se transfigura também, e aos olhos de quem assiste de bancada, em motivo de insulto automático. No dia em que um jogo de futebol correr mal às duas equipas em jogo, única e exclusivamente por culpa dos árbitros e juízes, talvez acredite que mereçam ser corridos definitivamente das suas funções, como o deverão ser todos aqueles que, de forma ilegal, exercem essa ou qualquer outra actividade. Mas a legalidade e o seu cumprimento não abrangem só o mundo do futebol e da política, pois não?