19.5.11

Razões para votar no PS e em Sócrates (crónica da Rádio Diana, 17.05.2011)

Como esta é a última crónica antes das eleições legislativas gostaria de vos dizer que eu vou votar no Partido Socialista e em José Sócrates. E explico já porquê.

Porque o Partido Socialista é o único partido que sendo de esquerda é moderado e, por isso, me merece a confiança da decisão ponderada e equilibrada, ao serviço da República, ainda que exigindo aos Portugueses uma mudança consentânea com o actual quadro; porque é o único partido que representa uma esquerda democrática que promove a igualdade de oportunidades e não impinge o igualitarismo, valorizando o facto de sermos indivíduos diferentes mas com direitos e deveres iguais para que assim possamos fazer a nossa diferença; porque defende os princípios essenciais do estado social, promovendo a escola pública, o serviço nacional de saúde e as políticas de coesão social; porque findo um ciclo em que associado a um cenário de crise nacional e europeia o preço da manutenção desse estado social é posto em causa, acredito que assumirá a implementação de regras em que o rigor dos princípios legisladores de aplicação e monitorização da acção social o torne sustentável; e, finalmente, porque com a quarta proposta do Programa de Estabilidade e Crescimento o governo do Partido Socialista mostrou quais as medidas que poderia o país ter adoptado para sair da crise, com propostas claras e concretas, ainda que duras e difíceis de suportar, como seria qualquer medida de austeridade aplicada a um país que depressa se habituou a usar o dinheiro europeu não só para investir, porque o fez, mas para calar exigências de duvidosa necessidade para determinados sectores da sociedade.

E vou votar em José Sócrates, uma figura de quem aprendi a gostar, pois reconheço-lhe uma difícil capacidade de comunicação com o cidadão comum – e é também isso que sou –, o que deixa quase sempre uma primeira impressão pouco simpática – mas um governante não é um amigo lá da minha rua, nem um governo é um parque de diversões. Ao longo dos seis últimos anos José Sócrates viveu vários episódios e concretizou diversas medidas que, na minha opinião, o revelaram como um verdadeiro homem de Estado, um Governante. E passo a elencar alguns exemplos.

Sócrates, um homem divorciado, chegou ao governo sem necessidade de criar uma imagem de chefe de família, contra quem obviamente nada tenho. Mas é que muitos, e a meu ver de forma pacóvia, acham que ser chefe de família (bom ou mau não interessa!) fica sempre bem no CV político. Este facto valeu-lhe uma série de boatos sobre a sua orientação sexual, que resultaram em piadas brejeiras que só revelam o humor de taberna que caracteriza ainda uma parte das mentalidades portuguesas.

Como se não bastasse, concretizou algo de que o eleitorado da extrema esquerda se achava arauto e maçou o eleitorado de direita, levando para a frente a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, um acto revelador de tolerância e solidariedade digno de qualquer bom cristão.
Ainda em questões fracturantes como a lei da interrupção voluntária da gravidez, actualizada no seu primeiro mandato, pôs as questões de saúde pública, sem dúvida inquestionáveis, à frente de uma ética longe de ser consensual e que nunca poderá ser resolvida com votos, mas eventualmente ultrapassada com Educação.

Sócrates mexeu ainda com alguns direitos adquiridos de determinados sectores e corporações da sociedade que se revelavam fortemente injustos quando postos em comparação com outros sectores: falo do fim da acumulação de pensões com salários, o que estragou a vidinha a muita gente que reformada ocupava ainda cargos de activo; falo da avaliação dos professores, pelo menos os que se deixam representar por alguns sindicalistas, que se acham acima de qualquer avaliador sugerido ou modelo que não seja feito à medida que só a eles interessa; falo do desmascarar de alguns media que sob o direito conquistado da liberdade de imprensa a usam às vezes até indecentemente para ajudar à difamação em troca do prime time.

Mas também não esqueço que enquanto líder do Partido Socialista assistiu à dança de cinco presidentes do maior partido da oposição e, mesmo assim, deu sempre de chefe de Estado de Portugal para o resto do Mundo a imagem de um bom líder, tendo recebido no nosso País das mais importantes cimeiras mundiais. De facto, tanto sucesso só pode causar nos lusos de micro e mini calibre aquele sentimento com que Camões encerrou o grande poema épico dos Lusíadas: a inveja. Só por estas razões, e mais haveria, no dia 5 eu vou votar no Partido Socialista e em José Sócrates. Bastam-me.