9.5.11

Cidades Educadoras (Rádio Diana crónica de 02.05.2011)

Hoje queria falar-vos de uma rede internacional, a das Cidades Educadoras. O conceito nasceu em Barcelona quando em 1990 um conjunto de cidades de diversos países se reuniu com o objectivo de trabalhar conjuntamente projectos e actividades para melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. Estava inaugurado o movimento que deu origem à Associação Internacional das Cidades Educadoras. Évora associou-se a esta rede em 2000 e assumiu um maior protagonismo na rede territorial portuguesa em 2009 quando organizou o 3º Congresso nacional e passou a integrar, por inerência, a comissão coordenadora. Renovou em Janeiro deste ano, e desta vez por eleição, a presença neste órgão de coordenação, constituído por 42 municípios, conjugando-se vontades técnicas e políticas em assumir de uma vez por todas o conceito e o que ele implica.

Esta rede internacional agrega hoje mais de 400 cidades de 35 países, cidades completamente diferentes umas das outras, unidas por uma convicção comum: a de que a educação dos cidadãos não passa apenas pelos bancos da escola e a cidade tem ela, em si mesma, também essa função. O preâmbulo da Carta que orienta a rede inicia com uma frase interessantíssima que diz assim: «Hoje mais do que nunca as cidades, grandes ou pequenas, dispõem de inúmeras possibilidades educadoras, mas podem ser igualmente sujeitas a forças e inércias deseducadoras.» Sendo o hoje 2004, sou de crer que este tempo será sempre contraditoriamente intemporal. Se por um lado é bom sinal, porque mostra a insatisfação de quem quer sempre mais e melhor, não deixa de ser triste perceber o quão poderosas e resistentes podem ser as tais “forças e inércias deseducadoras”.

Os técnicos dos municípios que estão mais directamente envolvidos nas respectivas estruturas camarárias são, ao que tenha podido constatar, muito militantes nas actividades da sua Cidade Educadora. Têm boas relações com todas as instituições e associações de que são parceiras em projectos educadores nas diferentes áreas – cultural, ambiental e outras –, trocam experiências, discutem propostas, propõem projectos. São aliás os técnicos os grandes proponentes para a concretização de facto dos princípios teóricos, levando aos políticos eleitos sugestões que enquadram a actividade municipal no sentido de esta contribuir para a efectivação do conceito. Sem ter nada a opor a esta tão louvável militância, quando cheguei ao executivo e passei a tomar as rédeas do pelouro da educação apercebi-me de duas situações que me pareceram ser de “a rever”: tudo o que diz respeito ao assunto Cidade Educadora vai quase directamente para a divisão de educação e poucos dos restantes serviços são envolvidos no mesmo assunto. Não que o trabalho estivesse a ser mal feito, muito pelo contrário, mas parecia-me pouco ambicioso para quem quer que a sua Cidade, toda, seja educadora. Começámos, por isso, a desenvolver uma estratégia que decorre paralelamente a todas as outras iniciativas que já estão a ser desenvolvidas pelo município. Passa essa estratégia por intervir dentro da própria estrutura da Câmara.

Os serviços municipais são os que mais habilitados estão para conhecer a cidade. Chamados a intervir em diferentes áreas da sua vida, conhecem o território, as suas características, pontos sensíveis mas também potencialidades, e conhecem também os seus habitantes, podendo prever a equação que é o relacionamento dos habitantes com esse seu território. Pensar sobre os assuntos e as áreas que melhor conhecemos é o “caldo” ideal para que se comece a produzir saber sobre esses assuntos e essas áreas.

Nesta “cruzada” que será envolver os serviços para a vivência plena do que é o conceito de cidade-educadora é preciso ousar. E será preciso continuar a ousar. E porquê? Porque se ousa falar de cidade educadora fora dos serviços ligados à Educação. Porque se ousa convocar serviços fora dos pelouros que caiem dentro da vereação para a Educação. Porque se ousa chamar os técnicos a reflectir quando normalmente a certos serviços se pede apenas para agir. Porque se ousa pedir que se proponham projectos que façam dos recursos internos municipais o investimento de capital, já que em papel dinheiro este não existe. E esta é uma “cruzada” que julgamos trabalhosa, de persistência e ininterrupta, que está a interessar muito os outros municípios da rede. A ver se pega…