11.10.22

O sobressalto mediático

Foi no dia de aniversário do Tratado de Zamora, aquele em que se definiram os limites de Portugal que ainda são os de hoje, e no mesmo dia , 767 anos depois, em que se implementou a República; foi no dia 5 de Outubro que me dei conta de que o espaço público das crónicas de opinião da DianaFm tinha duplicado. Assinalo, com gosto, que os avanços democráticos, nisto de proporcionar igualdade de oportunidade de acesso, continuam a amadurecer nesta reputada cooperativa de comunicação. 

E se festejo a iniciativa, dou as boas-vindas, em particular e em nome da tão valorizada proximidade, a quem passou a, paredes-meias, partilhar comigo as terças-feiras. Presume-se que, consequentemente, de quando em vez, quem nos oiça ou leia, assistirá no uso das palavras e do discurso, no fundo o exercício da razão, perspectivas diferentes com argumentos próprios, mas também oriundos de ideologias de base com as quais os indivíduos tendem a identificar-se. Ideologias propostas para se aplicarem políticas públicas na gestão do País, ou da Cidade, e na administração do que serve a vida das pessoas e da sociedade. 

Se é o que presumo, e aproveitando o contexto de preparação do OE2023, o que eu sei é que, deste lado, tendo a olhar para as opções de gestão nacional, aceitando que a afectação de recursos de todos nós mantenha um sector público forte, que possa ajudar-me sempre que necessário, e um sector privado próspero que, em conjunto com o sector público sólido, contribua para que não sejam tantas vezes necessários os apoios públicos, e que se crie riqueza no nosso País. Já se percebeu que isto é tarefa difícil, tarefa monstruosa que se avizinha com o agigantar-se da inflação e das taxas de juro, os vilões da sociedade de consumo em que todos vivemos. Em cima deles, acresce que muitas das decisões de hoje, todas discutíveis, só se avaliarão mais tarde. Acontece muito e falta-nos a prática de “pós-monição”, muito mais acessível e disponível do que a da premonição. 

Ora isto não serve quem precisa de estar sempre a anunciar “notícias de última hora”, nem quem precisa de ocupar espaço público no presente para condicionar a governação, às vezes qualquer que ela seja, e vir, talvez, a ser governo depois. Resultado: criam-se casos que o não são (sim, falo dos de Pizarro, da frota automóvel da TAP, do de Pedro Nuno Santos), escolhem-se adjectivos, comparações e exclamações que escondem as alternativas que não se tem coragem de dizer sinceramente que se aplicavam; ou até só, das antigas fotografias de fachadas, retocadas para parecerem novíssimas, se recorta quem se preocupou com o miolo e a alma dos lugares, tudo para levar a água ao moinho, como se fosse, e só pudesse ser, o seu. E acaba-se por fazer pairar, numa prática de ou aparente inconsciência, ou sub-reptícia intenção, ou tudo misturado, um arzinho a perigosas tentativas de descredibilizar a Democracia e manter, falsa e convenientemente, o nível de sobressalto dos media. É que às vezes basta ler mais do que os títulos das notícias, que nos berram aos olhos, mas as próprias notícias, que os esvaziam. 

Ainda bem que na vastidão da planície alentejana os ecos tendem a não se propagar. Pena que vozes de explicações e argumentos, mais demorados, por lá também, demasiadas vezes se percam.