21.6.22

Os ansiosos tóxicos

 Está a começar a ser penoso assistir às diversas ansiedades instaladas no palanque da política portuguesa. As oposições em ânsias por transformarem no “último grito” problemas caquéticos; certos governantes a ensaiar afanosamente “sprints” como se quisessem inventar milagres para os resolver. E, às tantas, até só para darem, ou partilharem, sacos de papel às oposições para elas soprarem e controlarem a hiperventilação. Um sufoco.


Quem tem noção (e memória!) de que nada do que é bom ou mau é novo, sabe que não é de milagres mas de juízo generalizado que precisamos. O que não quer, por isso, dizer que seja mais fácil do que um milagre. Estou até convencida que o cidadão comum está mais preocupado em não voltar a ter covid e que os impactos da guerra na Ucrânia não lhe cheguem muito mais ao bolso, do que em assistir à histeria com fins contagiantes em que alguns se têm posto. Resumindo: espero (e julgo que não estarei sozinha), com alguma ansiedade também para não destoar, que chegue uma silly season à antiga. 


Uma silly season em que a ansiedade seja a de que esteja bom tempo, que as viagens, curtas ou longas, decorram sem incidentes, que as obras dos vizinhos não interrompam as sestas, que não faltem os pequenos prazeres que tornam os dias maiores e as boas memórias mais prolongadas. 


Como escrevo esta crónica enquanto uma situação pouco normal de um vôo, em Lisboa, causou duas ou três horas dignas da transmissão radiofónica da Guerra dos Mundos de 30 de Outubro de 1938, em que a leitura de Orson Wells do texto de H.G. Wells causou muito pânico em muita gente que acreditou numa invasão de extraterrestres, também me parece que a comunicação social está a precisar de algum tempo para relaxar. 


Se os níveis de ansiedade continuam assim, não há urgências, nem terapêuticas de espécie alguma, que aguentem ou cheguem para tudo e todos. Inspirar, expirar e guardar as energias para continuarmos atentos e agirmos quando for realmente útil fazê-lo.