6.6.22

À la Borda d’Água

Entrou Junho e os jacarandás continuam a encantar, tão bonitos quanto sujões. Regressarão Santos: Antónios, Pedros e Joões. 


Junho é o meu mês preferido, sem nele ter nenhum interesse privado: sem datas significativas ou nostálgicas que me façam celebrar por dentro ou à mesa. Nada, a não ser ter lá dentro o dia mais longo e a noite mais curta do calendário natural. Se gosto da noite, não percebo porque não prefiro Dezembro, esse mês que me ajouja de memórias… Deve ser o frio.


Em Junho e Dezembro, nos respectivos dias 24, ainda oiço a minha Avó paterna suspirar: não tarda nada estamos no Natal… não tarda nada estamos no São João. Media assim, partidos ao meio como melancias, os anos, uns atrás dos outros. Calendário de ritmo religioso, está bom de ver. Até porque não há na família, em nenhuma das que se cruzam em mim, sangue que se preocupe com sementeiras. Só com Deus e o Diabo. Ou nem um nem outro, como nos aconteceu a alguns. Ficou-nos o tempo gentio a passar com os dias, os meses e os anos, a relacionar memórias com porquês do presente e esperanças de respostas menos dolorosas no futuro. Sem gosto por premonições, dedicarmo-nos às “pós-monições” ajuda a perceber porque é que sempre foi assim mas às vezes é diferente. E nesses “às vezes” encontrar a variável que combata a estupidez, a ignorância ou a inteligência ao serviço da sacanice: têm todas resultados muito parecidos. Anda-se entretida, às vezes dá-se umas respostas, umas sugestões. Aceita quem pede, confia quem escuta, e a vida segue.


Entrou Junho. Uma imprevista pandemia não se deixa apanhar, e entrou no seu terceiro Junho, persistindo nas mucosas de tantos de nós ou dos nossos. Entrou Junho, consequente em vagas onde, lá no país das armas de circulação livre por um punhado de dólares, há quem lhes dê uso como se não quisesse morrer sozinho. E é o primeiro Junho da Guerra que já é a terceira de tão mundial que será nos impactos, e que já fez 100 dias e milhares de vítimas. Entrou Junho e seria tão bom que só olhássemos para os jacarandás e festejássemos sem preces, nem pressões, os Santos. Vale a pena tentarmos fazê-lo, a dobrar até, por quem não o pode. É cumprir calendário, ao menos. E talvez um dia dar a esse simples cumprimento o alto valor da celebração. O hábito não pode só banalizar.