10.5.22

Virada do avesso

 Foram sobretudo dois os temas que, ao longo da última semana, excitaram as hostes de oposição ao Governo (as que ocupam espaço público, ou pelo menos alguns cantinhos, vá): os russos que eram nossos amigos e já não são e a variação dos preços dos combustíveis. Se ouvi e vi muitos moderadores-jornalistas a tentar adentrar por caminhos argumentativos mais sólidos e menos frequentados por quem insiste em entoar uma música ambiente monótona e ensaiada; também assisti a “cheerleaders” espicaçando o coro para apenas tentar que se subissem decibéis ao mesmo coro batido. 


Num quadro circunstancial em que não se destacam lideranças nem novas e fortes, nem resistentes e carismáticas, os Partidos da oposição, quando  folgam da discussão do orçamento e acorrem ao que a comunicação social vai lançando como isco para que haja sempre assunto, são uma verdadeira “seca”. Vão buscar argumentos ao baú, saltando por cima dos caixotes em que os próprios guardam muito do seu legado; fulanizam e perdem a perspectiva absolutamente necessária do conjunto. 


Tem-se destacado o PSD a preencher esse espaço, naturalmente, já que é um dos três Partidos que vai tendo quadros a fazer política em vários níveis, lugares e ocasiões. O outro, para além do que é da cor do Governo e que andará em modo de defesa, está tão amarfanhado a ser mais soviético que os russos, que, para seu bem, quanto menos aparecer, melhor. Mesmo que ainda ocupe o espaço da contestação organizada em sindicatos, num trabalho sempre muito persistente que lhe é próprio. O que é certo é que, no que respeita ao discurso da oposição (e se não é, parece muito), vale tudo para que “quanto pior, melhor”. 


Sobre os cidadãos russos de quem se desconfia que um possa ser espião ao serviço de Putin, não percebo qual o espanto que isto alguma vez, no contexto de guerra, não viesse a acontecer. Daí a generalizar-se uma situação… Então não foram benéficas as associações que acompanharam as comunidades do leste europeu na integração em Portugal nos últimos 20 anos? E quantas associações luso-brasileiras há por esse mundo fora a fazer o mesmo aos “nossos” que se afastam de cá? Sabermos da existência, por denúncias e consequentes processos, de averiguações de situações destas, eventuais, é sinal que, mesmo não sendo com a ideal antecedência que as evitaria, as instituições estão a cumprir e a fazer o caminho que tem de ser feito. Comecemos por nos ficar pelo repúdio ao alegado espião enquanto representante de Putin lá no bairro, esperando que eventualmente venha a ser considerado persona non grata. E se houver quem intencionalmente impeça, depois das averiguações feitas e concluído que é um espião, que as consequências se apliquem e que esse alguém tenha o tratamento previsto. 


Já sobre os preços dos combustíveis, não se percebe como é que os que, ao mesmo tempo que exigem menos Estado, se espantam que as gasolineiras não estejam mesmo a aproveitar-se da guerra para fazer negócio e manter os preços altos, enquanto o Estado não tem os instrumentos legais para actuar. Acusam esta iniciativa, uma espécie de “dinheiro de helicóptero” chamado Autovoucher, sem a coerência com que concluem que a subida dos combustíveis afecta mais do que só automobilistas. Por favor, entendam-se e não persistam na instalação do espírito “sol na eira e chuva no nabal”. Parecem os outros a quererem ser democratas e imperialistas ao mesmo tempo, mas em latitudes e longitudes diferentes. Não é deste falso equilíbrio que a difícil coerência, que a Política exige, se consegue. Fazê-lo só serve mesmo para distrair o cidadão das incoerências de quem o faz.