19.10.21

Rebéubéu pardais ao ninho…

É possível que muitos se riam das comparações com que se inicia esta crónica, esperando-se sinceramente que não sejam os que transportam por essas estradas fora um autocolante (que outros terão no discurso) a dizer “Orgulho de ser Alentejano”.

As negociações e tomadas de posição pós-eleições, em Lisboa e no Porto, para composição de dois dos vários órgãos autárquicos que gerem concelhos, reflectiram maturidade e saber-fazer dos vários eleitos e, quero acreditar, das estruturas partidárias por que concorreram. Já em Évora, lugar de importância para cá ter tido no passado as Cortes, e capital de distrito com lugar ainda central nem que seja simbólico, as coisas parece que começaram esquisitas. Desde logo por se voltar a querer recuperar a imagem de uma dinastia, o que tresanda a “canto do cisne” acompanhado do pipilar de pardais a aconchegarem-se ruidosamente aos ninhos, como se não fosse coisa que fizessem religiosamente todos os dias.

Comento a partir do que as notícias me trouxeram, que é para o que servem os meios de comunicação social, depois e para além da transmissão catita pelo YouTube a que, já desenvolta nestas plataformas, também assisti moderadamente curiosa. Sobre esta cerimónia, a das assinaturas e discursos, só me apetece destacar o quanto se satelizou uma instituição que atribui graus académicos, de outras que, ligadas a essa máquina, se vão mantendo à tona com o ar das braçadeiras a fugir de escrutínio para escrutínio.

Ainda assim, deve ter dado para rir, a estes sobreviventes das duras lutas dos climas extremos e agrestes do antes da Democracia. E revelou-se a espessura política de resistência que dificilmente outros igualarão, embora possam achar que esta se ganha por se ostentar canudos e rosetas, ou esperando que os ventos de vitória da Capital bafejem os astros alaranjados que incham no interior. Já sem falar de quem disfarçado de cuidador dos eborenses, chegando-se-lhes a distribuir maçãs porta a porta, disfarça a única e exclusiva ambição pessoal de quem não conseguiu trepar nos Partidos a que pertenceu.

O sorriso deve esboçar-se já no dueto vermelho, e se espreitarem a notícia da DianaFm que saiu no passado sábado, repararão que depois do mais votado para gerir a Câmara se dizer “disponível para estabelecer consensos”, o mais votado da Assembleia durante a primeira reunião para a eleição da Mesa, onde houve “falta de consenso”, ter de marcar “novo sufrágio, a realizar na terça-feira, às 21:00”. Hoje, portanto. Será que vamos assistir a um combate entre David e Golias? Ou será só uma versão da fábula do boi e do sapo? A mim traz-me um cheirinho de Goscinny e Uderzo… Mas sem vontade nenhuma de rir, porque continuo a simpatizar com as ideias fundadoras do Partido Socialista e custa-me, mais do que vê-lo ser já o habitual alvo de esquerda e direita, segurar o moderado centro com o que parece ser tão frágil tripé. Oxalá me engane!