3.12.19

Eu sou livre, tu és livre, viva a livraria!


Este jogo de palavras é dos que aparece de vez em quando na rede social com que me dou. Uma piada a valorizar o livro e a leitura como ferramentas e práticas que podem promover o espírito crítico e abrir horizontes aos seus mais assíduos utilizadores. Mas a gracinha, no contexto destes dias que correm, leva-nos, claro, para outro caminho: o mediático impacto dos novos partidos no comportamento dos seus deputados e no próprio desempenho da AR. Potenciado sobretudo pela deputada eleita pelo Livre, mas não só, de quem aliás quase todos já temíamos, pelas mais diferentes e opostas razões, o desmascarar de várias pulsões latentes no comportamento de cidadãos a quem se devolve ciclicamente o direito e o dever de escolher quem nos governa, e que se distraem a desdenhar os Partidos e a deslumbrarem-se com heróis. É verdade, também, que todos os Partidos se foram moldando a este gosto e se enchem de candidatos a heróis que julgam que para não parecer o político odiável não é preciso perceber de Política.
Se do Livre vamos tendo, graças à vistosa deputada, notícias em catadupa do que corre menos bem, do Chega! vamos conhecendo detalhes sórdidos da sua pop-star e o incómodo de alguns que, coitados, parece que foram ao desengano quando integraram o Partido e bateram agora com a porta. Mas também o Iniciativa Liberal parece não estar, enquanto Partido, a viver tão mais tranquilos dias quanto os “velhos Partidos” de quem cativaram muitos eleitores, a braços igualmente com questões de liderança. Fá-lo-ão provavelmente em circuito mais discreto, se não ensinados pelo habitual funcionamento muito intestino dos tais “velhos Partidos” de onde saíram, talvez pela prática do segredo como alma do negócio que é o ar que respiram há mais tempo.
O aparecimento dos novos Partidos parecia reflectir um avanço na maturidade democrática do País. Afinal, apenas reflectiu o aviso do papel de todos os que, em diferentes níveis, tresleram o impacto de uma cultura do “salve-se quem puder”, do “eles e nós”, do “subir na vida e ser alguém”, pelo preço de um prato de lentilhas. E estes “radicais livres”, reagindo a um equilíbrio que acusavam de caduco, viciado, falo dos chamados Partidos do sistema, ganharam espaço qual moléculas libertadas pelo metabolismo do corpo que, se na realidade provocam doenças degenerativas de envelhecimento e morte celular, metaforicamente não significam nenhum rejuvenescimento da nossa Democracia.
Como as piadas desde sempre ensinam, esta que escolhi sobre liberdade e livros também nos ensina onde os podemos encontrar: nas privadas e aliciantes livrarias (físicas ou on-line) e, as minhas preferidas, nas acessíveis bibliotecas públicas. Ambas colectivos organizados, com regras, e quando bem geridas, sempre dispostas a evoluir com o tempo rejuvenescendo-se. E já agora que estou em maré de frases que são best-sellers, na senda da importância do colectivo, lembro o velho e sábio provérbio africano que nos ensina a ir mais longe, e não é sozinho.