28.5.19

O valor da Democracia

E lá fomos a votos, no primeiro acto de uma peça que conta nesta edição com mais dois (sim que a Madeira, apesar de ilha e pérola, não vive dentro de uma ostra e paga impostos e recebe financiamentos com impacto nacional). Depois do final do campeonato e da final da taça do desporto e do negócio mais idolatrados pelo povo português, o apelo para a governação da Europa voltou a não soar a cerca de 70% de portugueses.

É certo que não estamos sós, apesar de termos sido dos mais displicentes no uso da única arma de defesa que a Democracia distribui a todos os maiores de 18 anos indiscriminadamente, sem impedâncias de que tantas vezes ouvimos tantos queixarem-se: que é só para os amigos, que é só para os ricos, que os gordos não podem, que os brancos são ameaçados, que os negros são barrados, que os gays são ignorados, e por aí fora. Mas a desgraça dos outros não me consola. Nem a desgraça, nem a indiferença, nem a pobreza, nem a estupidez, já agora. Às vezes a única coisa que por desvairados mas concentrados e breves momentos me parece descansar é que essa percentagem de eleitores baldas não se dê nem sequer ao trabalho de ler, ou até só ouvir, as campanhas eleitorais onde se publicam e empunham as atrocidades que a coligação Basta! empenhadamente vomitou. Talvez o jejum eleitoral do povo e o resultado que esta camarilha obteve com os votos dos que aproveitaram a democracia para dizer que queriam acabar com ela, alerte certas elites de vários círculos que, normalmente por egoísmo, os ajude a enfardar até ao próximo acto eleitoral em que voltem a regurgitar mais do mesmo.

Mais do que contente com o resultado continuo insatisfeita. O resultado nacional não se pode festejar sem ser no contexto do conjunto dos restantes Estados-Membro. E só com o desenrolar da acção desta nova composição veremos se um certo optimismo e uma pálida esperança na Europa se mantém. Recomecemos, portanto, ainda e mais outra vez.