Esta
será a minha última crónica antes da pausa para a campanha eleitoral das
eleições europeias, no próximo dia 26. A Europa parece-nos longe porque temos
tendência a tomar pelo todo, a Europa, aqueles que são eleitos para a
representar, os eurodeputados. Não sem alguma razão, bem entendido. Mas razão
que se perde quando a abstenção atinge níveis altíssimos, o que faz com que
haja uma enorme fatia de possíveis eleitores que se deixa governar por quem não
elegeu ou, pelo menos e por outro lado, tentou que não governasse. E a Europa
estará tão mais longe quanto mais nos afastarmos dela desta forma, convencidos
de que estamos a votar em “deputados de luxo”, amparando conversas que acima de
tudo despromovem a Democracia em vez de a tornar mais exigente. Se calhar
também é por isso que para estas eleições há uma maior desmobilização daqueles
que julgamos estarem verdadeiramente interessados na Política, mas que depois
percebemos que é só a fingir, que só aparecem nas Autárquicas ou nas Legislativas
na esperança, às vezes ânsia, de que algum cargo lhes caia no colo. Aí é vê-los
a defender o Partido como se lhes defendessem os ideais mais do que outros
interesses que nele se movem. Conversas!
Mas
esta relação de pessoas, Partidos, empenho político e votos é precisamente o
que mais me interessa focar a propósito das Europeias. Há apenas umas eleições
em que se pede aos eleitores que votem em pessoas: as Presidenciais. Aí sim,
votamos em quem para além da partilha dos ideais connosco se revele o que
consideramos ser uma pessoa que desempenhe um cargo onde é só seu o crédito das
acções que venha a ter. Nas outras eleições, cabe aos Partidos encontrarem as
pessoas que melhor o representem e aos eleitores votar no Partido que se quis
fazer representar por essas pessoas. Sobretudo nas Autárquicas e nas
Legislativas. Nas Europeias parece-me até que, pese embora todas as qualidades,
ou falta delas, dos futuros eurodeputados, importará perceber a que grupo de
deputados se juntarão os que de cada País forem eleitos. E aí a distância desse
Parlamento de que não conhecemos tão bem, ou quase nada, o funcionamento, pode
ser um factor decisivo para cativar ou desmobilizar eleitores. Cumpriria talvez
mais aos candidatos a difícil e pouco mediática tarefa de explicarem
exactamente o que votaram na Europa que beneficiou Portugal, para além da
própria Europa onde devemos ir buscar, e levar, muito mais do que
financiamentos que ainda muitos acham que não são públicos nem dependem dos
nossos impostos. Ai não que não dependem! Só no dia em que os eleitores
conhecerem minimamente este funcionamento serão verdadeiramente cidadãos livres
para votarem nas Europeias. Até lá sentir-se-ão provavelmente quase manipulados
por Partidos que menosprezam dizendo “ser todos a mesma coisa” e não vão votar.
E
é também por isso que nas Europeias importa mais pensar não em quem, mas onde
vamos votar. Em qual dos oito grupos representados no Parlamento Europeu – o
grupo dos Socialistas e Democratas, o do Partido Popular, o dos Conservadores e
Reformistas Europeus, o da Aliança dos Democratas e Liberais, o grupo da
Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, o dos Verdes/Aliança, o da Europa
da Liberdade e da Democracia Direta e, finalmente, o da Europa das Nações e da
Liberdade; para além dos deputados que não pertencem a nenhum grupo político e,
nesse caso, fazem parte dos chamados Não Inscritos. Claro que também podemos
encontrar nalguns candidatos, mais do que noutros, qualidades que gostaríamos
de ver representadas no Parlamento Europeu e que não estão ainda vinculados a
nenhum deles, mas talvez seja bom prever que alianças farão quando lá chegarem.
Não é fácil e dá trabalho, para além daquela sempre ingrata sensação de que há
um risco na escolha. Mas não são assim todas as escolhas deixadas ao quase
fatal e ainda maior privilégio de poder exercer o livre arbítrio?
Boa
campanha a quem for na campanha, bons votos a todos os eleitores e até depois
de dia 26.