8.1.19

A vitória da mediocridade ou a crise da Democracia


Antes de mais, os meus votos de bom 2019 aos ouvintes da DianaFm.
Este ano outros votos vão dar a oportunidade aos cidadãos de poderem expressar, para além de o fazerem através do queixume, do insulto ou da indignação nas redes sociais, a sua vontade de escolher quem os vai governar. Em Maio para o Parlamento Europeu, aquele que para muitos parece estar lá longe mas que tem, ou devia ter, enorme importância e impacto nas políticas nacionais e na convergência de ambientes sociais e económicos de bem-estar entre os Estados-membros. Em Outubro, nas nossas legislativas, será para escolher quem, no executivo ou na oposição, condicionará a aplicação de medidas que reflectem forçosamente opções ideológicas que importa conhecer e reconhecer, não apenas nos discursos mas também nas práticas. E pelo meio há também na Madeira eleições para o Governo regional que actua com particularidades que, consequência da condição da autonomia, quando dá jeito a madeirenses ou continentais são chamadas à berlinda, de forma inconstante e intermitente.

Mas este ano começou também com uma evidência da profunda crise em que a Democracia, a que nos permite escolher pelo voto e no mundo em que ela vigora graças a lutas importantes e avanços civilizacionais que tomamos como seguros e eternos, parece estar a cair: falo da mediática tomada de posse de Bolsonaro, resultado da vitória dada pelo Povo brasileiro, democraticamente, à mediocridade. Esta mediocridade é não só evidente no discurso pobre de Bolsonaro, quer como candidato, quer já empossado, como é evidente em todo o seu percurso público de 27 anos enquanto político. Não faltam por aí artigos e testemunhos que atestam estas mediocridades. E não se trata apenas das referências ao poder divino, que já Lula e Dilma nos seus discursos também não conseguiram evitar, e que como está bom de ver não tem importância nenhuma na actuação política. É que tanta invocação do nome de Deus deixa bem à vista, conhecendo quem o faz, que apenas interessa como anzol para que os crédulos mais desinformados e desatentos assim se mantenham. Diz-se que aquela foi uma cerimónia solene. Pois de solene pouco lhe vi. Desde o comportamento digno de uma turma de corrécios daquelas que reclamam redução do número de alunos por turma e professor de apoio, até à frase extra do discurso de Bolsonaro sobre as cores da bandeira nacional do Brasil e da promessa-ameaça de sangue.

E depois foi também o discurso de Ano Novo do Presidente Marcelo. Este foi um sério aviso ao perigo de que a crise da Democracia se transforme em mau estado permanente da mesma. Um discurso pedagógico que só pecou por não ter continuado no que fez à saída da sua reunião com Bolsonaro. Se tendo a achar necessário que um Chefe de Estado se comporte como tal e não vire as costas a um Estado que tem a representá-lo alguém que personaliza precisamente o que Marcelo diz temer, era escusado ter-se referido a um “encontro de irmãos”. Os ouvintes dos dois discursos hão-de ter sido, na sua maioria, os mesmos, mas se o primeiro discurso foi para o Povo, o segundo foi popularucho. E há uma diferença nisso.

A Democracia está acima de tudo nas mãos dos Cidadãos: os que votam e os que se juntam para constituir ou transformar os Partidos e as restantes instituições públicas. Em época de eleições, e uma vez que é dos Partidos que normalmente saem os governantes, é bom que cada Partido que esteja verdadeiramente interessado em governar e em salvar a Democracia contra os ataques de vários lados, não se rendam à equação que valoriza sabe-se lá mais, para sermos ironicamente ingénuos, do que a competência, a seriedade e a defesa coerente dos valores e princípios em que assentam. É que eu que sou uma leal simpatizante de um Partido fico banzada com posturas e acções (ou inacções!) antipatizantes de certos militantes a quem, depois, se consola com relevos de vária espécie. Se isto assim continuar nos Partidos, o que acontece discreta ou “desbragadamente” em todos, acabam por se tornar ou em eucaliptos que secam tudo o que lhes podia ser benéfico à sua volta, ou em “tudo farinha do mesmo saco”. E se não se tomar atenção a isto mesmo, com o empurrãozinho que tanta Comunicação Social vai dando, não tarda nada mesmo já “chegámos... não à Madeira mas... ao Brasil”.