Antes de
mais, os meus votos de bom 2019 aos ouvintes da DianaFm.
Este ano
outros votos vão dar a oportunidade aos cidadãos de poderem expressar, para
além de o fazerem através do queixume, do insulto ou da indignação nas redes
sociais, a sua vontade de escolher quem os vai governar. Em Maio para o
Parlamento Europeu, aquele que para muitos parece estar lá longe mas que tem,
ou devia ter, enorme importância e impacto nas políticas nacionais e na
convergência de ambientes sociais e económicos de bem-estar entre os
Estados-membros. Em Outubro, nas nossas legislativas, será para escolher quem,
no executivo ou na oposição, condicionará a aplicação de medidas que reflectem
forçosamente opções ideológicas que importa conhecer e reconhecer, não apenas
nos discursos mas também nas práticas. E pelo meio há também na Madeira eleições
para o Governo regional que actua com particularidades que, consequência da
condição da autonomia, quando dá jeito a madeirenses ou continentais são
chamadas à berlinda, de forma inconstante e intermitente.
Mas este ano
começou também com uma evidência da profunda crise em que a Democracia, a que
nos permite escolher pelo voto e no mundo em que ela vigora graças a lutas
importantes e avanços civilizacionais que tomamos como seguros e eternos,
parece estar a cair: falo da mediática tomada de posse de Bolsonaro, resultado
da vitória dada pelo Povo brasileiro, democraticamente, à mediocridade. Esta
mediocridade é não só evidente no discurso pobre de Bolsonaro, quer como
candidato, quer já empossado, como é evidente em todo o seu percurso público de
27 anos enquanto político. Não faltam por aí artigos e testemunhos que atestam
estas mediocridades. E não se trata apenas das referências ao poder divino, que
já Lula e Dilma nos seus discursos também não conseguiram evitar, e que como
está bom de ver não tem importância nenhuma na actuação política. É que tanta
invocação do nome de Deus deixa bem à vista, conhecendo quem o faz, que apenas
interessa como anzol para que os crédulos mais desinformados e desatentos assim
se mantenham. Diz-se que aquela foi uma cerimónia solene. Pois de solene pouco
lhe vi. Desde o comportamento digno de uma turma de corrécios daquelas que
reclamam redução do número de alunos por turma e professor de apoio, até à
frase extra do discurso de Bolsonaro sobre as cores da bandeira nacional do
Brasil e da promessa-ameaça de sangue.
E depois foi
também o discurso de Ano Novo do Presidente Marcelo. Este foi um sério aviso ao
perigo de que a crise da Democracia se transforme em mau estado permanente da
mesma. Um discurso pedagógico que só pecou por não ter continuado no que fez à
saída da sua reunião com Bolsonaro. Se tendo a achar necessário que um Chefe de
Estado se comporte como tal e não vire as costas a um Estado que tem a
representá-lo alguém que personaliza precisamente o que Marcelo diz temer, era
escusado ter-se referido a um “encontro de irmãos”. Os ouvintes dos dois
discursos hão-de ter sido, na sua maioria, os mesmos, mas se o primeiro
discurso foi para o Povo, o segundo foi popularucho. E há uma diferença nisso.
A Democracia
está acima de tudo nas mãos dos Cidadãos: os que votam e os que se juntam para
constituir ou transformar os Partidos e as restantes instituições públicas. Em
época de eleições, e uma vez que é dos Partidos que normalmente saem os
governantes, é bom que cada Partido que esteja verdadeiramente interessado em
governar e em salvar a Democracia contra os ataques de vários lados, não se
rendam à equação que valoriza sabe-se lá mais, para sermos ironicamente
ingénuos, do que a competência, a seriedade e a defesa coerente dos valores e
princípios em que assentam. É que eu que sou uma leal simpatizante de um
Partido fico banzada com posturas e acções (ou inacções!) antipatizantes de
certos militantes a quem, depois, se consola com relevos de vária espécie. Se
isto assim continuar nos Partidos, o que acontece discreta ou “desbragadamente”
em todos, acabam por se tornar ou em eucaliptos que secam tudo o que lhes podia
ser benéfico à sua volta, ou em “tudo farinha do mesmo saco”. E se não se tomar
atenção a isto mesmo, com o empurrãozinho que tanta Comunicação Social vai
dando, não tarda nada mesmo já “chegámos... não à Madeira mas... ao Brasil”.