22.1.19

A importância da pergunta



Entre o nacional alarido com a crise no PSD e a internacional preocupação com o modo de concretização do Brexit, assim decorreu a passada semana noticiosa. Quer uma, quer outra circunstância foram consequência de processos de auscultação democrática. Num caso, quase familiarmente íntimo de escolher entre candidatos a chefes de família; no outro, a opção de um reino composto por várias famílias se manter ou não ligado a um conjunto de outros países, reinos e repúblicas.

Em ambos os casos as opções de escolha não foram muitas, antes quase só em alternativa. Se no caso do Brexit essas duas únicas opções de resposta à pergunta eram inevitáveis, no caso do Partido português as perguntas ao “Quem quer, quem quer liderar o PSD?” poderiam ter sido, de facto, de escolha múltipla, ainda que com resposta única, bem entendido. Nem no Brexit, nem no último congresso do PSD foram feitas perguntas retóricas. Ou não deviam ter sido...

As perguntas retóricas são aquelas que não têm como objectivo obter uma resposta mas sim, das duas, uma: ou estimular a reflexão sobre o assunto sobre o qual se pergunta; ou ser sarcástico. Este tipo de perguntas é muito interessante em discussões conceptuais, em conversas de salão ou em reuniões de “partir pedra”, esse coloquialismo que designa os processos em que se colocam hipóteses, se traçam cenários, uma espécie de rascunho para uma versão definitiva e pública o mais atinada possível. A pessoa que faz uma pergunta retórica já sabe ou imagina a resposta. Mas isto também só se a pergunta, ainda que retórica, for bem feita, pois arrisca-se, quem pergunta, num momento de “rodriguinhos”, a levar como resposta uma outra pergunta, até mais embaraçosa.

Mas voltemos às perguntas em Democracia, sejam elas em forma de eleições ou referendos. O sistema político democrático exige esforço por quem se propõe geri-lo de forma a que ponha, de facto, os cidadãos a quem serve a participarem assumindo a centralidade do mesmo. Inclusive, exige um esforço, talvez o mais hercúleo, de explicar o uso da Democracia pelos seus próprios beneficiários. E este é um trabalho constante e interminável, que quando desleixado apenas serve para que uns se sirvam da Democracia em vez de a servir. Escolher é estar preparado para responder a uma pergunta. Perguntar é estar preparado para receber as diferentes possibilidades de resposta escolhidas. Como dizia o título de um antigo programa de rádio entre um psicanalista e um pedagogo, e que virou livro: “se não sabe porque é que pergunta?” Uma pergunta mal feita, ou feita na altura errada, significa falta de capacidade de quem a faz. Ou então, lá está, revela que a vontade de fazer a pergunta ao abrigo da definição de Democracia é só mais um instrumento tacticista de manipulação de quem responde. Como exemplos temos precisamente os dois casos noticiados que vos trago: não fazer parte da resposta a uma pergunta numas eleições, só para tentar voltar a fazer a pergunta mais tarde, em altura mais oportuna para o próprio, se não foi o que aconteceu no PSD, parece ter sido; ou por outro lado, fazer uma pergunta não se medindo as consequências da resposta, como quando convocou o referendo do Brexit David Cameron no Reino Unido, e, ao contrário, Mariano Rajoy não o validou na Catalunha. Na Catalunha já se calaram as vozes dos que, para se servirem do momento mais oportuno, o seu momento mais oportuno, criaram um ambiente de guerrilha. No Reino Unido, o imbróglio é grande e repetir o referendo parece contribuir pouco para o prestígio da Democracia, como se tivessem estado a brincar com ela até que a melhor resposta fosse dada. Aos britânicos, mais do que ter feito a prematura pergunta de resposta “sim ou não” importava ter apresentado todo um caderno dos encargos que as mudanças com a saída da UE impunham. É que perguntar pode mesmo ofender.