A informação
deste fim-de-semana, e que circulou nos seus meios institucionais, foi
particularmente deprimente. A culpa? A haver, essa necessária culpa para que a
narrativa se encaixe no objectivo consolatório de um best-seller, a culpa é de
todos nós: os que são notícia, os que dão a notícia, os que vêem a notícia, os
que ignoram a notícia e se estão a marimbar. A notícia deveria dar a
informação, a ela dever-se-ia acrescentar o comentário que avança argumentação
com o objectivo de ajudar a formar opinião. E isso também passa por dar o
devido valor ao que é e deve ser “a” notícia.
Ao lado dos
dramas quotidianos, sempre e bem incontornáveis, ao lado do facto que cumpre
calendário, tivemos em realce, como notícia, a memória do Passado heróico de
uma batalha perdida, falo de La Lys e das suas “papoilas” que representam o
sangue derramado, e o desvario de um figurão mediático e, como tal, famoso
presidente de um clube dos chamados grandes que têm no desporto-rei o seu
capital de fama. Fazer coincidir estes
assuntos não é o mesmo que compará-los, ou estaria a fazer o mesmo a que
António Ferro se referiu, por volta de 1940, e que seria qualquer coisa como
confundir o Caminho Marítimo para a Índia com a Junta Autónoma das Estradas. E
já agora, também mais um episódio da grave situação política e social do Brasil
concorreu para directos e debates, com a relevância do que é outra famosa
comparação entre o buraco na minha rua com as cheias mortíferas na Índia. É
também assim o relativismo.
Se um
Centenário é sempre uma boa ocasião para ficarmos a conhecer melhor o que se
comemora, os 100 anos da Batalha de La Lys, onde morreram centenas de soldados
nossos e cuja participação portuguesa foi, à época, tudo menos unânime, teria
sido uma boa ocasião para termos várias lições de História nacional e europeia.
E com a pluralidade de perspectivas necessária e útil, até para se perceber
quais os pontos convergentes e não fracturantes, úteis para quem queira, ainda
assim e com todo o seu direito, ter apenas e só uma ideia sobre o assunto.
Hélàs! La Lys
teve de competir com o presidente do Sporting Clube de Portugal. O eleito
massivamente por aqueles que quiseram participar na vida política da sua
corporação, por vezes talvez, os mesmos que se marimbam para a vida política da
sua Nação. Se me interessava ficar a conhecer melhor La Lys da maneira sempre
mais facilitada e parecida com o ócio, nem sempre sinónimo de menor qualidade
entenda-se, e que é ver na televisão programas sobre o assunto, já todo o circo
montado por e à volta de um indivíduo boçal e histérico em nada veio alterar a
minha visão sobre o mundo, pelo menos o mediático que é aquele a que tenho
acesso, do futebol. E tão distante do mundo do jogo em si!
Resumindo:
perdeu-se um bom fim-de-semana para dar novidades sobre o que se passou há 100
anos para se ganhar audiências sobre uma banalidade do que é a constelação que
gira em torno daquelas verdadeiras estrelas, as que têm Deus nos pés. Neste
fim-de-semana eu queria ter estado mais como aquelas papoilas do poema de John
McCrae, ao pé das cruzes da Flandres e dos que tombaram em La Lys ou, pelo efeito
do gás de mostarda, por causa de La Lys. Resta-me o consolo da imortalidade daqueles
ilustres desconhecidos, incomparável com a patética vontade de imortalidade de
alguns sempre derrotados candidatos a semi-deuses.