Andou por aí
a notícia de que Passos Coelho deixaria a vida política para regressar não à
vida empresarial, por onde terá circulado em tempos, mas para ingressar na vida
académica, dando aulas em várias Universidades deste País e, quiçá, até
estrangeiras quando aprender a falar inglês. O assunto toca em matérias que
conheço e, como tal, sinto-me impelida a partilhar convosco algumas reflexões
sobre a notícia, se esta for de facto uma notícia e não mais uma daquelas
coisas que se fazem passar por elas.
É sabido que
ser-se político de carreira é algo de mal visto por (quase) todos, para além de
ser actividade inexistente na tabela CIRS das Finanças (aparece uma categoria
de “Profissionais dependentes de nomeação oficial” mas vai-se a ver é coisa
para Notários e Revisores Oficiais de Contas). Trata-se de uma carreira
altamente precária por princípio, sujeita à expressão pelo voto da vontade
popular. Mesmo quando os lugares políticos são de nomeação, são-no por parte
dos que foram eleitos e a estes, como aos eleitores, devem também prestação de
contas do seu desempenho. Como qualquer precário, findo o período de actividade
é natural que se façam à vida. Alguns aproveitam o tempo de estadia na vida
política para ir preparando esse futuro incerto, o que assim dito até não
parece criticável. Mas também todos sabemos que há diferentes maneiras de o
fazer, havendo quem se dedique de facto a uma carreira e a quem se dedique de
facto a procurar carreiros para chegar a uma meta, nem sempre final. Eu cá
teria preferido que Passos Coelho ficasse funcionário do Partido com quem
manteve desde tenra idade uma relação seguramente muito benéfica para ambos, ou
não teria chegado a PM.
Depois, a
carreira universitária tem etapas, e requisitos para que se atinjam essas etapas,
actualmente com uma avaliação regular por triénio e outras avaliações públicas
ou concursais para se mudar de categoria. Muitas vezes nessas carreiras estão
excelentes investigadores e docentes que articulam os requisitos exigidos pelas
instituições de ensino superior da qual a extensão à comunidade é um deles, e
que demonstra a necessidade de que os seus membros não se ensimesmem e se
alheiem do mundo que os rodeia, para o qual devem contribuir, e que, sendo eles
funcionários públicos, lhes paga o ordenado ao final do mês. Muitas vezes o que
se ensina nas Universidades requer que se incorporem mais testemunhos e
contributos de quem vive mais no mundo de fora do que de dentro da instituição
e, por isso, se convidam indivíduos que cumprem essas funções. Não acho, pois,
estranho que um ex-PM tenha muito para partilhar com vários alunos de cursos
universitários, sobretudo os que lidam com questões de Política. Caberá aos
devidamente certificados como responsáveis desses cursos, avaliar da
importância de o receber ou não na sua equipa de docentes e investigadores.
Isso também dirá mais da Universidade que convidar do que do convidado.
Também é verdade que muitos políticos iniciaram a sua
vida profissional na Universidade, cumprindo com as regras que lhes foram permitindo
fazer aí uma carreira que depois interromperam ou desviaram para a carreira
política, por melhores ou piores atalhos...ou carreiros. Até conheço quem,
entre dois períodos de exercício político de eleição, com alguns meses de
intervalo para regressar ao que soe chamar-se alma mater (onde deve ter seguramente feito alguns seguidores que é
o que faz quem dá aulas e consegue “fazer escola”), que lhe permitirão, com
alguma sorte e astúcia (pronto, e mérito validado por eleições democráticas),
perfazer 32 anos de serviço na carreira política e, ainda assim, continuar a
dizer que é docente de uma Universidade.
Isto é tudo muito discutível e, por isso, discuta-se.