A semana que
passou trouxe no mesmo dia duas notícias relacionadas com o mundo do trabalho,
esse território que quando encarado do ponto de vista mais desinteressado mas
também mais empenhado, representa um modelo de equilíbrio da sociedade e um
lugar de bem-estar para o indivíduo. Os problemas podem começar a surgir, por
entre outros motivos, quando o interesse de uma corporação se sobrepõe à busca
desses equilíbrio e bem-estar e o empenho se disfarça em desígnios de
persistência que, na máscara da luta que parece revestir-se com resquícios de
tiques tribais, em nada contribuem para o alcançar desse modelo.
O chamado
braço-de-ferro entre empresa e trabalhadores na Autoeuropa foi uma das
notícias, a outra a morte do maior empresário português, figura sobejamente
discutida quando se quer continuar a torna presentes os que acabam de se
ausentar, e como é da Vida. Sobre as duas notícias lá voltaram então as
discussões sobre a construção deste mundo, sempre em modo de ser refeito, sob a
tutela do deus dinheiro e onde algumas das principais lutas de poder, se não a
luta mesmo, já não seria pequena se fosse para diminuir a desigualdade de
oportunidades e alcançar uma razoável sustentabilidade, quer da sociedade quer
do indivíduo. Sobre a Autoeuropa, adivinha-se o fosso escavado, pelas mãos mais
de uns do que de outros, entre empregados e desempregados e entre gerações: os
que nunca souberam o que eram os direitos dos trabalhadores e os que receiam
não vir sequer a ser trabalhadores com metade dos direitos que vêem agora ser
reclamados.
Mas o que me
trouxe à crónica, para além dos factos e do que eles me trazem a pensar
convosco, foi ter-me posto a comparar o que é a relação trabalhadores-patronato
num “império” com o seu líder identificado, visto como gente, e outro “império”,
o da Volkswagen, de quem desconhecemos os detalhes humanos de um, ou mais que
um, eventual líder, tão ausente em vida como o será na morte Belmiro de
Azevedo, pelo menos enquanto a sua memória não desaparecer com os que ainda com
ele conviveram. E nós, os funcionários públicos, que temos como patrões nós-próprios
e todos os outros que não o são mas que também nos pagam os direitos e para
quem temos deveres, bem sabemos, sobretudo os que ocupam cargos de chefias
várias, o difícil que é liderar e gerir a distância.
Tal como
nenhum patrão (ou chefe), por muito líder que seja, está isento de defeitos e
utiliza todos os meios ao seu alcance para continuar a ser um empresário (ou
chefe de um serviço) de muito sucesso, e aumentar assim o seu próprio
bem-estar, também não são todos os trabalhadores – uma espécie de monopólio que
alguns arrecadam para si e de quem parece mesmo é serem donos deles todos – que
são as vítimas do sistema capitalista em que todos, sem excepção, vivemos hoje.
Termino com
duas das muitas frases lapidares que o Senhor Sonae deixou aos novos empresários,
como uma escola que acabou por criar, e cito-o: “Sejam disruptivos, tenham a
coragem de questionar o porquê de as coisas serem como são e, se identificarem
formas de fazer melhor, trabalhem e façam acontecer”, “Vejam e ultrapassem a
rejeição, que não é mais do que um passo no processo de fazer acontecer”.