Temos assistido nas televisões, rádios e jornais, nas últimas semanas, ao
desenrolar da situação política em Barcelona, a propósito da vontade
independentista da Catalunha. Sendo um caso, ele é comum a outros países, até
mesmo europeus e não só em zonas do globo em guerra e mais distantes, e não
deixa de ser um exemplo de nacionalismo. Devo admitir que sou pouco
nacionalista, não deixando de ser patriota q.b.. A Pátria é a terra Mãe, e
mesmo não sendo como Natália Correia dizia que devia ser por isso a Mátria, há
uma identificação que reside sobretudo na questão de origem e pertença, em
várias dimensões que vão da língua aos costumes, dos saberes aos sabores. E,
talvez por isso, me espante ver que muitos dos mesmos que se insurgem contra
outros movimentos nacionalistas defendam aguerridamente este da Catalunha. Do
que já pude constatar por lá, o espírito catalão está tão bem conservado como
está o pitoresco em qualquer capital cosmopolita deste século: o que é global é
global, o que é europeu é europeu, o que é espanhol é espanhol, o que é catalão
é catalão. Também devo dizer que o referendo, prática inquestionavelmente
democrática, é um acto que requer um período de esclarecimento profundo dos eleitores
e perguntas acessíveis, claras e concisas.
Talvez convenha atentarmos na definição destes
conceitos que giram em torno de territórios onde pessoas nascem e/ou vivem e
para cuja organização contribuem de diversas formas que vão dos deveres às
obrigações, dos impostos aos subsídios, entre outras muitas mais questões.
Assim, vemos que o conceito de Nação é próximo do de País, mas sublinha os valores culturais comuns a uma população;
que Pátria salienta um País
ou território enquanto realidade afectiva a que grupos e indivíduos estão
ligados; que País se refere,
normalmente, a um território com organização política própria; e que o Estado é a entidade responsável
pela organização de um território e da vida da população ou do conjunto de
populações que aí habitam.
Assentando a visível contestação catalã de certas lideranças muito na
base do argumento regime republicano versus regime monárquico, é de facto a
única que se apresenta de forma clara, já que as outras razões gritadas por
muitos são enevoadas ou desmontáveis pelo forte sentimento de quem visita a
Catalunha e nela dá logo de caras com as suas autonomias. Assim, os catalães
querem um Estado só seu, o que não é uma coisa leve de decidir de um dia para o
outro, quando tanto já se deu e recebeu por se ser parte de outro. Aliás, a
ânsia deste tipo de independentismos, e sabendo que a letra da canção “Imagine”
do Lennon é toda ela um hino da utopia, esse não-lugar, tem tendência a
exacerbar muito mais os ódios do que os consensos, o que pode, desde logo,
contagiar muito mais o ambiente onde se instalam do que trazer benefícios ao
cidadão comum.
Gostei de ler num sítio web de Educação o que se dizia
sobre estes conceitos, embora se caia no argumento “ad Hitler”, demasiadas
vezes usado e por isso mais gasto do que útil. E lá dizia-se assim: “Muitos Estados, para
garantirem o exercício de suas soberanias em seus territórios, tentam criar
entre os seus habitantes um sentimento nacional, ou seja, a ideia de que aquele
país equivale a uma nação geral, o que costuma ser chamado de nacionalismo. O estímulo ao nacionalismo é visto com bons olhos
por muitas pessoas no sentido de essas valorizarem os seus territórios e suas
populações, mas é preciso ter cuidado, pois os fatos históricos já demonstraram
que um nacionalismo extremo pode provocar uma onda de fascismo. Nesse caso, o
governo e até as pessoas passam a considerar que a sua nação (ou “raça”) é
naturalmente superior às demais, justificando ações bélicas e formas de
preconceito diversas, tal qual foi o caso do Nazismo na Alemanha em meados do
século XX.” Vale a pena pensarmos nisto.