É bom estar de volta às crónicas da DianaFm e continuar a pensar convosco
as andanças desta terra, seja ela cidade, região, país, continente ou habitat da espécie humana.
O Verão foi longo, quente e fatal, tudo ingredientes para que não tivesse
senão um pinguinho de aroma a silly
season, e, e... Parece que já nem num mundo mergulhado em redes sociais a
tradição das convenções supérfluas de agir à jetset é o que era. E conseguir impor tréguas carnavalescas à
seriedade do que realmente importa torna-se difícil. Talvez até pior ainda: o
que foi silly foi o que, por força de
outros calendários, e falo do eleitoral em particular, se deveria ter mantido a
sério e não conseguiu. Mas adiante, que esse assunto está encerrado, com o povo
que pôde escolher quem lhe resolva, ou tente resolver, o problema de ao pé da
porta, tão importante como o problema que afecta a Humanidade lá mais ao longe.
Daqui para a frente se construirá o julgamento em 2021.
Nesta série de crónicas decidi alinhar não por alguma constante que tenha
estado fora das anteriores, que se fizeram à volta de estrangeirismos,
expressões populares, verbos, citações ou metáforas, mas onde os acontecimentos
suscitaram, e continuarão a suscitar, a opinião. Com a certeza, porém, de que
manterei o que sinto desde o princípio: que por ser opinião que expresso
publicamente tenho o dever de explicar os seus porquês com argumentos que não
diminuam quem os oiça com atenção; que pessoas inteligentes perante a mesma
informação podem ter opiniões diferentes e, que uma vez explicadas nesta mesma
base, não são opiniões nem intelectualmente limitadas, nem desonestas. O que me
leva também a distinguir, como é evidente, entre opinião e carácter. Nem todos
os opinativos têm bom carácter e nem todos os que têm bom carácter têm de ser
opinativos. O carácter é também o que permite, para além da opinião, atitudes
correctas ou não. E não estou a pensar fazer nenhuma espécie de tratado de
ética ou moral em fascículos, mas apenas e só a pensar convosco o que vamos
ouvindo dizer sobre o que acontece.
E para começar esta etapa em que as palavras continuam, afinal, a estar
omnipresentes (como nos estrangeirismos, nas expressões populares, nas
metáforas ou nas citações) importará perceber que, como tudo, as palavras
crescem e modificam-se sem nunca precisarem de ser desvalorizadas, nem mesmo
até, por serem de uso perigoso, ser deixadas à solta. E é por isso que importa
percebermos, e vos deixo a pensar, sobre o tanto que agora se diz sobre o “politicamente
correcto”. Lembro que na origem é uma classificação de algo ou alguém que segue
as normas estabelecidas por uma instituição oficial. E, normalmente, quando se
fala em “politicamente correcto”, qualifica-se o uso de palavras ou o discurso
que evita estereótipos ou referências a diversas formas de discriminação
existentes ainda numa sociedade em progresso, como o racismo, o sexismo ou a
homofobia. Deste conceito cria-se, através de uma lógica discutível, a ideia do
“politicamente incorrecto” em que todo o cuidado em evitar o uso de expressões
ofensivas para determinadas pessoas ou comunidades, é desconsiderado. O
discurso “politicamente incorrecto” é o comum do discurso humorístico,
legitimamente silly, portanto. E quando
se opina em público é fácil sentirmo-nos atraídos por ele. Resta saber onde
acaba o humor e começa a intolerância.