Desde a eleição de Trump para presidente dos EUA já muita
tinta correu e muitas vozes se ouviram. Das que têm uma noção selectiva da
questão do que são as regras estabelecidas por cada Estado democrático nas
eleições, e nas quais não me revejo, até àquelas que do outro lado do Atlântico
viverão com a que é, simbolicamente, a figura que representa o seu país e que
expressam o seu desconforto e legitimamente se sentem zangados com quem, também
legitimamente, o escolheu.
No day after,
expressão que passámos a usar para falar do que vem a seguir às grandes
hecatombes, naturalmente e porque na Natureza também humana se passa assim,
tudo se irá acalmando e adaptando às novas circunstâncias com a ajuda do Tempo
e da intervenção da razão humana unida com propósitos comuns. E isto não é
pessimismo derrotista nem optimismo alienante, é realismo que dá muito mais
trabalho e não se compadece com leis do menor esforço. Importante é que se
apurem as diversas causas para explicar o fenómeno, compará-lo com os que o
antecederam na linha do Tempo e os que poderão estar a incubar em linhas que se
cruzam a definir o Mapa-mundi.
Para além daqueles muitos norte-americanos que não
aceitam, nem simbolicamente, que Trump os represente espero, sinceramente, que
os que convictamente o escolheram como o melhor para o fazer, também saiam
decepcionados. Na melhor das hipóteses, reafirmo eu. Vai cumprir às
instituições, e às organizações partidárias que as alimentam, defender a
democracia sem esquecer, acima de tudo, o estado que alcançámos de progresso a
vários níveis no bem-estar da Humanidade. E se o fizerem, aquilo que Trump
utilizou para vender às massas mais sugestionáveis porque mais indolentes a
usar a faculdade da razão que têm para prever o futuro e fazer uso da empatia
no que esta significa na capacidade de nos pormos no lugar dos outros, ou seja aquilo
que foram sobretudo enormes disparates, Trump acabará, espero eu, por
esquecê-los. Julgo que os Republicanos não quererão confundir-se com Trump e, a
concretizá-lo, restar-lhe-á cumprir uma outra agenda mais subtil e eficaz, e
não menos perigosa no meu entender, com os resultados no passado para os
cidadãos dos regimes, de todos os lados, totalitaristas. A atenção dos partidos
com a realidade da polis onde actuam, lá como cá, bem como a relação da
comunicação social com os cidadãos, terão de ser repensadas. É que já não há
lugar, como o sentiu Hillary, para só mais uma vez voltar a usar encenações e
guiões e adereços para representar uma actuação e preocupação com o bem-comum
que, afinal, apenas serve a promoção ou corporativa ou, pior ainda, pessoal.
Se é certo que há pessoas que fazem a diferença, isso é
diferente de qualquer um, fazendo-se passar por um ser excepcional, ser essa
diferença. Se também me parece continuar muito razoável a expressão de que “são
as pessoas que fazem os lugares e não os lugares que fazem as pessoas”,
resta-me desejar aos norte-americanos com responsabilidade que façam com que
esse lugar da maior e mais antiga democracia do Mundo, que é o do Presidente,
saiba moldar a pessoa que o ocupará.