Se os animais só nesta legislatura em Portugal passaram a
ter uma voz humana assumida na casa da Democracia que lhes traduz (será que
traduz mesmo?) as preocupações com a legislação de direitos e deveres (será que
é mesmo isto?), já há muito que cumprem a função de símbolo, também na
expressão da linguagem verbal através da metáfora. Quer-me cá parecer, pois,
que nesta série de crónicas, a bicharada aparecerá por aqui amiúde. E hoje
cruzei-me já com o macaco, esse parente afastado da espécie humana, com quem
partilhamos mais características de comportamentos do que poderíamos imaginar
quando apenas nos fixamos em características físicas, e que, como tal, nada têm
a ver com o insultuoso, como é mais corriqueiramente usado o nome do bicharoco
entre gente de tão mau coração como juízo.
Ser-se macaco é muitas vezes ser-se espertalhão, com tudo
o que o aumentativo acrescenta a esta qualidade. E ser-se macaco de imitação,
para além de algum incómodo que possa causar aos imitados, só deveria ser
insulto se se ultrapassasse a honestidade e deixasse de ser o que de bom tal
espécie metafórica animal até pode ter: toda uma escola de referências que se
repetem e, como tal, melhoram, enriquecem e aumentam o nível de determinadas práticas.
Os imitados até podem sentir que contribuíram, por exemplo, para melhorar um
determinado nível de opinião ou forma de a exprimir. E isso só pode ser bom,
parece-me. O diabo do detalhe é quando a imitação passa ao lado disto. Em
circunstâncias como as do mundo das profissões, dos negócios ou até da procura
de emprego, pode chegar-se a estragar a imagem simpática do macaquito.
Encontrei por aí, numa pesquisa de cliques, não apenas um
pequeno dicionário de metáforas de animais usadas em entrevistas de emprego,
como referências destas no mundo dos negócios. E fiquei a saber que, se sobre
um entrevistado se deixar passar o nome macaco, a coisa pode não estar a correr
mal, já que um macaco de imitação pode ser especialmente importante em
trabalhos repetitivos. Mas como não há bela sem senão, noutro lugar alertava-se
para um perigo, a propósito do chamado benchmarking. É que este é uma forma de
imitação e uma de muitas estratégias para o auto-aperfeiçoamento em que para
cada área a ser melhorada se tenta encontrar um modelo a ser seguido e se tente
imitá-lo, mas que se arrisca a ser usada de forma incorrecta. Isso pode
acontecer quando se copiam cegamente processos e ideias inadequados, fora de
seu contexto original; ou quando se faz uma cópia mal acabada, pouco parecida
com o original.
E há por aí tanto por onde escolher de casos em que a
popularidade depressa se acaba quando o original se esgota e o imitador afinal
não passava disso mesmo… Uma pena, porque se o princípio não é mau, partilhando
vários orgulhos entre feiticeiro e seu aprendiz, acaba por não haver vantagens
para quem com esta espécie mais incompetente tente aprender alguma coisa. E não
sei se, tirando a relação intergeracional que leva à sobrevivência da espécie,
numa aldeia só de macacos os da mesma geração ganham alguma coisa em imitar-se
uns aos outros. O que é uma pena e só diverte quem está de fora a apreciar as
macaquices.