Chego ao fim deste trio de crónicas sobre a oposição e
socorro-me mais uma vez do irónico raciocínio do Vergílio Ferreira: «Não se tem
simpatia se não houver seja o que for de admiração: tem-se apenas tolerância ou
piedade.». Quer queiramos quer não, a sociedade em geral só valoriza os
vencedores. E sobre os que ficam em segundo lugar chega a considerar-se que são
só os primeiros de uma longa lista de perdedores.
Se, em determinados casos, este espírito mais competitivo que
construtivo transforma os “segundos” em pessoas resilientes e portanto há,
seguramente, uma vitória de construção do seu próprio carácter; por outro, e
quando se percebe que quem concorre não o faz pelo percurso, tantas vezes em si
mesmo já uma finalidade, mas única e exclusivamente com uma ambição até
legitimada pelo contexto da competição de nada servir senão a vitória, não
ficar em primeiro é motivo de enorme frustração e, por vezes, motivo de
comportamentos distorcidos de carácter. Em alguns tristes casos a tendência é a
desistência, não de uma carreira no mesmo domínio o que seria compreensível,
mas do persistir em percorrer um caminho de construção e optar por enviesar
para caminho paralelo que estraga verdadeiramente o espírito inicial, e essencial,
da competição em causa.
Podendo parecer que me estou a afastar da Política, da
Democracia e do papel da oposição, garanto-vos que não. Uma oposição eleita deve
comportar-se ao nível dos seus eleitores, não à espera de vencer a qualquer
custo, mas de tentar corrigir eventuais rumos que, claramente inversos aos que
propunham para a governação, merecem que se lhes oponham. Por vezes o ambiente
causado por uma oposição pouco construtiva, destrutiva mesmo, acaba por
contaminar o ambiente em que se vive. E como o destino tem das suas ironias,
poderão vir a ter de ser esses mesmos, caso lhes caiba voltar a governar, a
recolher os resultados do mau ambiente que criaram.
Comprova-se isto mesmo, a nível nacional, nas ligações entre
Partidos que deitaram abaixo um governo socialista em 2011 e que se rearrumaram
novamente para permitir que em 2015 um governo socialista voltasse ao poder. A
nível local confesso que o que sinto mesmo, no quotidiano que retomei após
quatro anos de experiência governativa, é que o clima de contestação pela
contestação, que vigorou durante 12 anos, está a ser difícil de levantar. Mesmo
com uma aposta feita numa comunicação eficiente, leia-se propaganda, que tenta
ser multiplicadora de efeitos de feitos que há décadas se repetem e, em alguns
casos, até com melhores resultados antes do que agora, por vicissitudes várias.
Para lá do incontestável facto de que quem ganha o poder é
que o tem para mudar o que tem de ser mudado, para melhor em princípio,
parece-me que o caminho mais saudável para exercer a oposição é perceber se
seria, e como seria, possível fazer melhor do que a proposta governativa. Mais:
em nome de que é que se tomam determinadas posições e decisões, normalmente bem
identificadas com determinadas ideologias que estão precisamente na base da
constituição dos Partidos. E é aqui que entre a esquerda e a direita e tendo eu
sempre defendido, no adolescer da Democracia portuguesa a que tenho tido o
privilégio de assistir, mais os princípios do que as tácticas da esquerda, me
convenço que há que estarmos atentos a outras diferenças, que também se
percebem nas estratégias: as dos radicais e as dos moderados.
Enfim, é por isso que para mim também em Política, e
ao contrário do que as regras do mundo competitivo da comunicação pela imagem
nos querem fazer crer, e conseguem, não me parece que sejam a simpatia ou o seu
contrário o mais importante. E muito menos a admiração. Isso fica para os
amigos e aqueles com quem efectivamente privamos. Assim, excluir-se-iam também
a piedade e a tolerância que, banalizadas desta forma, roçam tantas vezes a
arrogância. A mim chegava-me muito bem o civismo e a competência. Na
governação, como na oposição a Democracia, com uma real igualdade de
oportunidades, deveria tender a crescer no domínio da Meritocracia, sem dó nem
piedade, sem idolatrias nem factos tornados consumados. Talvez se lá chegue.