Por esta altura um pouco por todas a
cidades universitárias, ou até mesmo só cidades com universidades desta Europa,
os estudantes que querem, podem e fizeram por isso estão a saber para que outra
universidade, noutro país europeu, irão estudar no próximo ano lectivo, durante
o ano inteiro ou só num dos semestres. Este programa europeu, financiado por
fundos para os quais todos os contribuintes europeus participam, foi talvez das
primeiras iniciativas da União Europeia para que esta união passasse da ideia,
que muitos dela fazem, de que apenas existe para acordos económicos e
envolvesse de facto cidadãos que pudessem considerar a Europa um território a
que pertencem, como muitos sentirão em relação ao seu país.
Estabelecido em 1987, foi afinal um
programa de apoio interuniversitário de mobilidade de estudantes que veio dar
ainda um maior sentido à Declaração de Bolonha, assinada a19 de junho de 1999,
e que desencadeou o denominado Processo de Bolonha. Um documento conjunto que
alargou o espaço europeu para lá dessa União, já que foi assinado pelos
Ministros da Educação de 29 países europeus, reunidos na cidade italiana de
Bolonha.
O programa Erasmus tem o nome do
filósofo holandês, Erasmo de Roterdão que, no seu percurso intelectual de
combate ao dogmatismo, viveu e trabalhou em vários locais da Europa para
expandir o seu conhecimento e ganhar novos conhecimentos. Erasmo optou por
levar uma vida de académico independente quer de um país, quer de laços
académicos ou de lealdade religiosa e de tudo que pudesse interferir com a sua
liberdade intelectual e a sua expressão literária. É que quem sai do seu lugar
para partilhar com os de outros lugares o que lá aprendeu, quem volta a esse
lugar de origem ou vai tendo destinos vários, acaba sempre por levar e trazer mais
alguma coisa a esses lugares. Desinquieta-se o corpo em movimento, inquieta-se
o espírito que, à partida, fica mais crítico porque mais aberto ao outro, que
tem quase tanto de mesmo como de diferente.
Aquele que empreende um tal programa
predispõe-se a enfrentar o incerto. Quando o filósofo Erasmo morou em Lovaina foi
alvo de muitas críticas mesquinhas por parte dos que se sentiam incomodados
pelo questionamento dos seus dogmas, o que equivale a dizer que Erasmo lançou a
dúvida sobre os que apregoavam convicções inquestionáveis, uma verdade absoluta
e que devia ser ensinada com autoridade. Estes eram gente douta pelo que
conheciam do saber transmitido sem inquietações, mas hostil aos princípios do
progresso a que Erasmo devotou a sua vida. Procurou então refúgio em Basileia, onde
se estabeleceu e acabou por morrer, recebendo a visita de muitos admiradores de
vários cantos da Europa. Resumindo, um homem que circulou e fez circular gente
nesta Europa para arejar mentes e construir os espíritos humanos predispostos a
abrirem-se.
Já agora acrescentar que E.R.A.S.M.U.S. é também
uma sigla para European Region Action
Scheme for the Mobility of University Students, em português Sistema de Acção Regional Europeia para a
Mobilidade de Estudantes Universitários. Aos que estão a preparar as malas
para embarcarem nesta aventura também do Conhecimento, só posso desejar que
seja tão profícuo como a experiência que eu própria tive em Bordéus, França, há
26 anos e que me permitiu, já que nunca tinha saído de casa para estudar,
ganhar o gosto para ter a bagagem de me adaptar aos outros, noutros lugares e
com outros costumes, disposta a contrariar dogmas que é, afinal, questionar
para aprender.