O bullying é a prática de actos violentos, intencionais e repetidos, contra uma pessoa indefesa, uma vítima que pode sofrer danos físicos e psicológicos irreparáveis. A palavra surge do inglês bully, que significa brigão ou valentão, e desconfio que o que chocará nesta prática é mais a incapacidade de defesa da vítima do que a atitude do bully, uma vez que quando há dois bullies somos quase tentados a comentar que “estão bem um para o outro”. E talvez seja esta expectativa de andarmos todos a preparar-nos para responder à altura das dificuldades que vamos encontrar ao longo da vida, condescendendo em descer por vezes ao nível mais vil do ser humano enquanto membro do reino animal, que ao longo dos séculos fez dos que têm reacções menos instintivas – ou de um outro tipo de instinto – vítimas declaradas.
É que o bullying em si, e quando não dá origem a crime público, acontece mais frequentemente do que possamos pensar e, muitas vezes, é feito com um conjunto de pessoas a apoiar, como claque, a prática do insulto, da extorsão, da atitude violenta – com palavras ou actos – perante quem por princípio, opção ou dever não corresponda à reacção que parece ser a exigida pelo bully ou pela sua claque de apoio: responder à altura e partir para a guerra, em escaladas de violência que podem ir até à agressão física e ao insulto desbragado, assim mesmo na cara das pessoas.
O bullying, mais do que com o exercício de um poder, que muitas vezes até se conquista com o sucesso após a sua prática e o aplauso dos pares que parecem transformar-se em seguidores ou súbditos, tem a ver, na minha opinião, com o respeito ou a infracção de limites do que se pode e deve, ou não, fazer e dizer. Se esse conhecimento é adquirido pelo exemplo, pelo discurso positivo, enfim pela educação que recebemos da comunidade que nos rodeia; e se o desrespeito desse limites é punível e punido efectivamente, através de sanções de vários tipos – e onde a liberdade não deve ser confundida com anarquia (mesmo quando esta é defensora de um pacifismo e uma autodefesa que deixa perigosamente à solta uma justiça sem regras) – então, teremos de encarar vários comportamentos que vamos achando normais – como os insultos proferidos pública e sistematicamente àqueles de que discordamos, às vezes a descer a avenida com as câmaras da TV atrás - como exemplo de muitos que fazem dessa prática uma atitude corrente e, contra o que lhes é adverso, do que lhes é incompreensível, do que muitas vezes apenas sai fora do comum, uma forma de reagir legitimada pelo cidadão comum e apenas suspensa quando outros limites se ultrapassam. É que também aqui, e não só nas coisas boas, o caminho se faz caminhando.