Ser-se VIP
significa ser-se uma pessoa muito importante, e vem do inglês “Very Important
Person”. Esta palavra geralmente refere-se a pessoas que têm alguns privilégios
que não são concedidos a todos, só aos muito importantes. Foi uma sigla que se tornou termo e
que apareceu a meio do século passado. Aplica-se sobretudo a celebridades da
música, autores famosos, grandes desportistas, personalidades das artes,
especialmente as que chegam às multidões, como os atores e as atrizes de renome
internacional. As celebridades podem ser também os chefes de Estado, os chefes
de governo, os empresários de grandes grupos, os políticos com grande destaque
na imprensa e pessoas de grandes fortunas que se sobressaem dos outros. Por
vezes esses VIP têm a maçada de ser vítimas dos haters. Haters é
uma palavra de origem inglesa e que significa "os que odeiam" ou "odiadores" na tradução literal para português. Mas sobre
estes hoje não direi nada.
Cheguei ao
VIP pela recente notícia que circulou dando a conhecer a muito interessante
carta enviada há 50 anos por Jean Paul Sartre, filósofo e escritor francês bem conhecido
nem que seja de nome, ao então Secretário da Academia Sueca responsável pela
atribuição do prémio mais VIP do mundo, o Nobel. Uma carta que não terá chegado
a tempo, pois não teve efeito o seu pedido e o Nobel lá lhe foi atribuído três
dias depois e, como anunciado, recusado. Sartre fê-lo por razões também da sua
ideologia política, sendo um tardio mas firme defensor dos regimes comunistas e
consciente de que os prémios como aquele tornam os premiados em instituições.
Uma honra, é certo, que ele reconhece, mas que o faria ou alinhar-se pela
ideologia sueca da Fundação do Nobel ou vice-versa. Terá dito e cito: «as
minhas simpatias pelos revolucionários venezuelanos implicam-me a mim, enquanto
se Jean-Paul Sartre, o laureado, apoia a resistência venezuelana implica todo o
Prémio Nobel como instituição.» E foi assim que de entre os 76 autores listados
nesse ano, o escolhido recusou.
Mas não foi
caso único, já que houve mais VIP’s neste mundo que acabaram por não receber o
Prémio que quer gostemos ou não, do prémio ou do premiado, acaba por tornar
mundialmente confirmado esse estatuto VIP. Em 1973 o fundador do Partido
Comunista da Indochina recusou-o por lhe ter sido atribuído ex-aequo com o norte-americano Henry
Kissinger, premiando as negociações pela paz entre os dois países, mas como
ainda estariam sem efeito à altura do prémio, o político comunista não o quis
receber. Curiosamente, ou talvez não, Hitler impediu três laureados da química
e da medicina de receberem os respetivos prémios, em 1938 e 39, assim como as
autoridades da União Soviética, em 1958, impediram Boris Pasternak de aceitar o
Nobel da literatura.
O certo é
que Sartre não deixou de ser Sartre por ter recusado o Nobel e rejeitou, por
motivos pessoais e em coerência alinhado com outros de ideologia idêntica,
vestir uma pele que não era a que queria para ele. Não menosprezou os que o
receberam, antes pelo contrário. Mas parece-me que esta justificação que
conhecemos agora, findo o segredo de 50 anos, nos mostra o quão VIP se pode ser
recusando sê-lo. Afinal, duas formas de fazer valer um estatuto de que se gosta
e permanecer, com ou sem prémio, sob os holofotes da opinião pública. É que os
VIP’s também se alimentam de palmas.