Amanhã dia 12 de março é dia da escola de ciências sociais da
universidade de Évora. Declaração de interesses: é a escola onde trabalho e de
que me tinha em parte afastado quando, pouco menos de um ano antes, se tinha
reorganizado em escolas em vez de áreas departamentais. Devo dizer que a
palavra escola, e o seu conceito, me agradam bastante. E mais me agrada ainda o
princípio de “fazer escola”. Por outro lado, e por ser de literatura, confesso-vos
também que, quando da reorganização, ter tido pena de se afastar a literatura
da área das artes. Mas como acredito que a teoria dos vasos comunicantes,
originária da hidráulica (mas que também aparece como técnica da narrativa, em
literatura portanto) funciona ou devia funcionar em muitas mais áreas, parece-me
afinal que o sistema não obstaculiza a que docentes, alunos e matérias
comuniquem entre si para que o necessário equilíbrio, leia-se qualidade de
ensino, seja alcançada. É isso que tenho encontrado na atividade letiva, na investigação
e no que chamamos, estatutariamente, “tarefas de extensão universitária, de
divulgação científica e de valorização económica e social do conhecimento”, e
me levam a prever que assim continue a ser.
Mas voltemos à noção de “fazer escola”, para que possa
dizer-vos que me faz sempre muita impressão ver grandes mestres sem discípulos
que lhes possam suceder. Pode-se ser o melhor numa determinada área e por
avaliação unânime; pode-se até ter contribuído para num determinado momento ter
virado o rumo à História; mas não ter deixado descendência nessa área, e de
preferência que ultrapassasse a fama dos progenitores, revela que o papel que
se desempenhou, por muito meritório, é muito mais um hino à individualidade,
para não falar em egoísmo, do que à humanidade, para não falar em igualdade ou
fraternidade.
Sendo o “fazer escola” transversal a muitos terrenos de
atuação importa, no entanto, voltarmos à escola de ciências sociais da
universidade de Évora. E realço a importância que me merece, pertença minha à
parte, citando Jean Fourastié, o economista francês que classificou como de
“trinta gloriosos” os anos, em França, que se seguiram à II Guerra Mundial: «O
atraso das ciências económicas e sociais em relação às ciências da matéria é uma
das causas das atuais infelicidades da Humanidade. A técnica arrasta o homem
para horizontes imprevistos.»
Os dias comemorativos a que tenho assistido, e o programa que
amanhã se promete e que em vários momentos, apesar de ser comemoração interna,
será aberto a toda a comunidade eborense, têm sempre conseguido demonstrar a
importância, para o “resto do mundo” que é afinal a Humanidade, das ciências
sociais. Ciências da educação, ciências da informação e documentação, economia,
educação básica, filosofia, gestão, história e arqueologia, línguas,
literaturas e culturas, psicologia, relações internacionais, sociologia e turismo
é o que se estuda, ensina e investiga. E, tantas vezes, quando vejo estas
ciências misturarem-se com as outras – as da saúde, da tecnologia, da terra e
da vida ou do exato – ou com as artes, bem como na abordagem de temas e
problemas que afetam a vida das pessoas e das comunidades, me convenço do seu
lugar tão próprio no progresso da Humanidade. É que se é a técnica que permite
o progresso, não há técnica que sirva beneficamente a humanidade sem que seja
questionada, seja perspetivada e se avalie o seu impacto. E é para isso que
nós, os das ciências sociais que já tiveram ao longo dos séculos vários
rótulos, vamos também contribuindo.