12.6.13

COMENTAR III

Para terminar esta série sobre comentários e comentadores não gostaria de deixar de lado os que são muito especializados em assuntos e matérias que lhes dizem muito respeito e que conhecem como mais ninguém. Aprende-se muito com este tipo de comentários e comentadores e bem hajam por isso.

Esmiuçam até à exaustão detalhes do assunto. Conhecem-lhe o histórico e preveem-lhe o futuro, distinguem matizes, reconhecem-lhe os seguidores, os simpatizantes e os inimigos. Normalmente olham o mundo tendo por termo de comparação esse assunto. Não estou, naturalmente, a falar de obsessões nem fanatismos, entenda-se. Mas sim de conhecedores do assunto que o comentam com convicção. Sem que lho peçam ou, pelo contrário, especialmente a pedido.  

Também acontece a estes comentadores serem muito requisitados por quem quer conhecer um pouco desse assunto. Mas, por vezes, como quem pergunta só quer conhecer um pouco lá fica o comentador numa espécie de pregação no deserto. E eu falo aqui de comentadores quando poderia falar de peritos, especialistas ou investigadores, porque o que me importa é o que a opinião de alguém sobre algo posse interessar e até influenciar os outros nas suas decisões e modos de vida. É este o espaço em que o facto objetivo se cruza com a subjetividade e a que normalmente tem acesso o cidadão comum, afastado do facto e tendo como intermediário entre si e esse tal facto alguém que acaba por dar, com maior ou menor exatidão, a sua própria perspetiva. Mesmo tendo em conta eventuais outras perspetivas, é a sua que transmite. E é sobre essa que quem pergunta irá agir ou decidir, com ou sem adaptações também mais pessoais.

Comentar é talvez dos exercícios mais difíceis e perigosos para quem tem, ou pretende ter, ou pretendem que tenha, alguma relevância no espaço público. Até porque nalguns casos a relevância que se possa ter nesse espaço público passa pouco pela inscrição de uma opinião pessoal, para passar a ser uma opção, pessoal ou de grupo, para outros. E, tantas vezes, essa opção é, ou devia ser, tomada sem que esse conhecimento profundo se transforme num condicionador que afunila a decisão e impede que opiniões diversas sobre o mesmo assunto sejam escutadas.

Decisões participadas que condicionam opções são uma forma de governação simpaticamente democrática e preferida por muitos. São afinal uma resistência a esse grau de conhecimento por parte só de alguns, inteligentsia da situação, para passar a ser a oportunidade de muitos, mais ou menos conhecedores, virem comentar as opções propostas e orientar decisões. O problema é estarem todas ou todos preparados para agir e reagir assim. É que formar uma opinião e comentar e querer que essa opinião e esse comentário passem a ter a responsabilidade de ser parte da solução é muito diferente de dizer umas coisas sobre o assunto ao microfone, ou em frente a uma câmara, ou de forma mais ou menos criativa na Internet.