21.5.13

ACREDITAR V

A solidariedade é talvez o valor mais difícil de aprender, mesmo sendo o mais apregoado e em nome do qual muitas pessoas, em muitas iniciativas, o celebram e apelam à sua concretização. Um pouco por todo o lado, ao longo das quatro estações do ano, associações, instituições, empresas ou grupos informais organizam-se em caminhadas, quermesses, concertos, leilões, enfim um sem-número de eventos que angariam ou verbas ou vontades, para ajudar a colmatar injustiças, naturais ou sociais.

Quando digo que a solidariedade é difícil de aprender, falo então de uma aprendizagem individual, de praticar a solidariedade no dia-a-dia rotineiro, fora desses momentos de maior euforia coletiva.

Praticar a solidariedade passa muito por nos colocarmos na pele dos outros. É uma pessoa agir ou reagir para com outra pessoa, na medida das suas próprias capacidades e estima pessoal, e de forma a evitar o conflito com terceiros. Complicado… Parece até ser algo apenas atingível por quem viva acima de uma humanidade que é cheia de paixões e questiúnculas. Também por isso é mais fácil ser-se solidário por grandes causas e em multidão. Também por isso é mais fácil ser-se solidário com problemas que nos tocam ou tocam os que conhecemos muito bem, ou pelo contrário, com quem lá muito longe sofre e com quem apenas temos o poder de demonstrar à distância a nossa solidariedade. Algo relativamente fácil e a única coisa a fazer.

De resto, andamos na nossa vidinha, naturalmente, e seremos sempre tidos por parvos se dissermos que andamos cá para ajudar os outros. Obviamente. Até porque podemos, e temos direito, a não sermos competentes para ajudar a resolver determinadas situações injustas ou evitar que possam tornar-se injustas. Apesar de que não empatar quem seja ou possa ser competente para o fazer, já seja uma grande ajuda…

A solidariedade, versão mais moderna da fraternidade, implica igualdade mais liberdade. Praticar a solidariedade implica olhar o outro ao mesmo nível, entrando na vida desse outro, sem a condicionar contra vontade. E, por isso talvez, a solidariedade seja entendida como uma espécie de amizade social, em grupo ou de massas. Mas, socialmente, não poderemos ficar dependentes de uma espécie de vontade oscilante de simpatias ou mesmo empatias. Pelo que, também as regras dessa “vida social”, ou seja, a legislação deva refletir esse valor da solidariedade. E muitas das obrigações de que nos queixamos servem mesmo, ou deveriam servir, para fazer cumprir o princípio da solidariedade em que quem contribua sinta que, caso necessite, possa ser um dia beneficiado, desejando que esse dia nunca chegue.