14.5.13

ACREDITAR IV

Para além de acreditar na liberdade, acredito também na igualdade. Não na igualdade cinzenta como um uniforme, que resulta e alimenta um pensamento ou uma ação únicos. Nem na igualdade lírica que, ao fim e ao cabo, apenas reveste de bonitas cores um resultado que acaba por ignorar o direito à diferença. Talvez até seja melhor dizer que não acredito nesta igualdade lírica apenas porque a acho um bocadito demagógica, apesar de entender que cumpre todos os requisitos de uma linguagem apelativa que pretenda mudar mentalidades num caminho que eu considero ser bom. O problema é que como qualquer atitude demagógica, mesmo sendo uma atitude demagógica por engano, ou seja não intencional, cria expetativas que, mais tarde ou mais cedo, desiludem.

Reconheço, então, e este reconhecimento é uma variante mais derrotada do convicto acreditar, que a igualdade, mesmo aquela de que vos falo aqui hoje, pode sempre criar alguma expetativa à qual não haverá resposta rápida e definitiva. Porque é uma igualdade, esta das oportunidades à partida, que implica uma aplicação demorada de uma legislação bondosa que, ainda assim, requer um sistema de serviços, espécie de engrenagem ou máquina, que também depende, lá está, de verbas. Verbas que, por estes dias, andam sabe-se lá por onde, correndo eu o risco de, ao falar assim, estar a ser forçosamente ligeira na minha análise. Mas adiante.

A igualdade de oportunidades é, então, a igualdade em que acredito e que dá por isso a liberdade a cada um de com ela fazer depois o que quiser. Ou seja, poder cumprir com as regras dessa oportunidade, socialmente disponíveis, e poder dela usufruir e construir algo que devolva depois à sociedade a possibilidade de todos poderem dispor de condições para, com o esforço individual, se irem libertando de alguns apoios.

O esforço de que aqui falo é aquele que se vê sempre recompensado. Não é nem a chico-espertice de certos cidadãos, e que cá para mim é um esforço ou uma tentativa de uma parte do mundo andar a ver se engana outra parte; nem é o esforço que pede quem, tendo o poder por optar por este caminho da igualdade, por incompetência ou por ter uma agenda própria, quer pura e simplesmente marcar à partida as desigualdades entre os indivíduos… os viáveis, em que vale a pena investir, e os inviáveis que vão varrendo para debaixo do tapete.

Esta agenda contra a igualdade de oportunidades nunca será ouvida da boca de nenhum governante de um regime democrático, mas as opções de governação podem, e mais cedo do que seria de esperar, rapidamente fazer parar a tal máquina ou sistema de serviços de que vos falava e que tanto depende das verbas. Mas, e assim termino por hoje, é um sistema cuja eficiência também depende e muito de quem nele trabalha e de quem dele beneficia, porque também para ele contribui.

A responsabilidade, sempre a responsabilidade, que não considero, na minha gramática muito pessoal e talvez um pouco lírica, como um princípio ou um valor sempre discutível, mas a única maneira de se encarar, ou única forma de interagir, espécie de metodologia obrigatória quando se faz parte de um, pequeno ou grande, coletivo. Até para a semana.