7.5.13

ACREDITAR III

Acredito na liberdade enquanto valor individual e coletivo. Seria até mais preciso dizer que acredito nas liberdades, assim no plural, mas para facilitar tomemos o todo pelas suas partes. Enquanto valor a liberdade é, para mim, não inata. Ao contrário de muitos, acredito que não se nasce livre, podendo nascer-se num ambiente em que se respira, vive e se pode optar, quando se souber, pela liberdade. A liberdade aprende-se e ensina-se, conquista-se e perde-se, prolonga-se e suspende-se, num tempo mais ou menos próximo ou mais ou menos histórico, num espaço individual ou partilhado, íntimo ou social. 

A liberdade conquistada em 74 deu-nos, enquanto nação, acesso a uma série de bens que devendo e podendo ser públicos eram até então exclusivo de alguns. Mas ao longo dos anos, fomo-nos apercebendo que, passada a natural euforia de podermos escolher livremente e em consciência, a vida, individual e coletiva, limita determinadas escolhas. Costuma até dizer-se que a liberdade de um acaba quando começa a de outro, forma de em curto-circuito se referir que não há liberdade sem regras, que há limites para o tudo se poder fazer ou exigir-se que outros nos façam. A liberdade exige também um compromisso com os que nos rodeiam, institucional ou individualmente, compromisso a que chamo assim responsabilidade. Só com a consciência, e a ação mais próxima e possível do exercício responsável, do direito a ser-se livre damos à liberdade o valor que ela tem, retirando-lhe o risco de que se desvalorize e comprometa os benefícios que traz, a nós e aos outros.

A liberdade que me parece, talvez, mais importante é a do acesso à informação. Ela liga-se ao funcionamento das instituições públicas, à comunicação e, muito, à educação, já que tantas vezes a informação necessita que sobre ela aprendamos, sozinhos ou com outros, a relacionar factos e a interpretar sinais. Sendo aquela que, em princípio, condiciona a formação de opinião e a tomada de opções, a liberdade de acesso à informação só aparentemente é um dado adquirido.

Todos talvez já tenhamos alguma vez feito o exercício de, conhecendo profundamente um facto, quando ele é transmitido, através de outros, normalmente na comunicação social mas nem sempre só da responsabilidade de jornalistas, descobrirmos as imprecisões ou lacunas sobre o mesmo, muitas vezes até sem que haja intenções expressas e menos simpáticas para as fazer. Desta feita, mesmo querendo emitir opinião sobre determinado facto, ou tomando decisões em função desse mesmo facto, estaremos sempre condicionados pelo percurso e quem nele intervém até que chegue até nós como informação.        

Alertados para esta vicissitude do sistema de comunicação, educados para procurar em diversos transmissores, caso estejamos longe da fonte original, para termos uma base mais segura para formarmos a nossa própria opinião e, eventualmente, fazermos a nossa opção, normalmente deixamo-nos, de uma forma humanamente natural, influenciar por fazedores de opinião com quem partilhamos visões e princípios comuns sobre a vida e o mundo. Estamos a pôr-nos, livremente, nas mãos de outros, partilhando com eles a nossa liberdade de formar uma opinião própria.   

Resumindo, age com mais e melhor liberdade quem mais e melhor compreende as alternativas que precedem uma opção, um rumo. E isso passa por termos a maior e melhor quantidade de informação sobre essas possibilidades. Permitir que todos tenham acesso a essa informação e o cuidado de a procurar é dar uma oportunidade, mais igual, no momento de fazer essa opção ou tomar esse rumo. Mas disto falarei mais para a semana. Até lá.