20.2.13

OPINAR

Desde há quase 40 anos que os portugueses têm podido opinar livremente em diversos fóruns. Até com o aparecimento das redes sociais esse direito, e o seu exercício efetivo, têm permitido que cada vez mais pessoas opinem num espaço mais ou menos público para além dos espaços mais formais como são os órgãos de comunicação social. É certo que há opiniões e opiniões, algumas mais relacionadas com a vida de cada um, ou uma, e sobre questões mais existenciais, aquelas que dificilmente serão resolvidas por alguém de características heroicas ou providenciais. Mas também são estas questões que, quando ultrapassadas por quem as sofre, faz de cada um, ou uma, um herói do quotidiano.
Depois há opiniões que são fruto de primeiros impulsos, são quase reações primárias que, normalmente, pecam por falta de reflexão e podem ser contrapostas com igual verve e de forma igualmente impulsiva por quem esteja em situação diametralmente oposta. Estas são mais arriscadas para ocuparem o espaço público, mas habitualmente são usadas pela comunicação formal dos media como grandes parangonas, as chamadas, “gordas”, já que também da função apelativa da linguagem vive este setor da comunicação. Os artigos de opinião são sempre um risco para quem os produz e, talvez também por isso, é que muitas vezes há opiniões que se escondem por trás de pseudónimos ou do anonimato, formas mais ou menos “contorcionistas” de evitar esse risco. O sistema permite-o e torna-se quase banal conviver com ele.
Por outro lado, a opinião quando não é sobre as tais questões existenciais e, por isso, apenas resolúvel pelo próprio indivíduo, reporta-se quase sempre a ações de outrem, normalmente de quem tem poder para agir e essa ação ter algum impacto no espaço público e na vida de um determinado coletivo.
Ora se em épocas mais recuadas, de há alguns séculos atrás, a discussão sobre qual a maior eficácia entre a espada que trespassa ou a pena que fere com as palavras que se jorram no papel nos destinos quer individuais quer coletivos, essa discussão, na evolução civilizacional da humanidade, atingiu um estado tal que nunca se discutirá que a diplomacia poderá ser precedida da solução armada. E isso veio dar à escrita, ou melhor à prática verbal, um lugar central em ajustes de contas, medidas de angariação de opiniões idênticas e, muitas vezes, formas de acabar com ações que são desmascaradas por esses alertas verbalizados mas que, consequentemente, são verificados ou verificáveis em outras ações ou opções diferentes. Estas são as opiniões fortes, consistentes, informadas, frontais mas profundas, que são assumidas claramente por quem as emite e por elas dá a cara. Normalmente, estas opiniões fazem escola, uma expressão que nos mostra muito claramente como a educação pelo exemplo, o exemplo da coincidência do discurso sólido com a prática de quem o profere, é importante. Aceitar ou contrapor este tipo de opinião é, julgo eu, apenas possível, ou pelo menos apenas vale a pena ter em conta, quando quem opina está em condições à partida de alguma semelhança: conhecer o facto sobre o qual se opina, optar por um lado para se posicionar ou avançar outro alternativo ou ainda, eventualmente, assumir a incapacidade de se encontrar num beco sem saída. Mas acima de tudo, opinar significa e tem como primeiríssima condição assumir-se enquanto autor dessa opinião ou, também aceito, opinião de um coletivo do qual se quer fazer parte sem destaque individual ou com esse destaque muito claro. Longa vida à opinião e a quem a exerce!