20.2.13

FOLGAR

Porque hoje é dia de Carnaval é mesmo dele que vos vou falar. Em Évora há muito que não há o chamado corso de Carnaval. Lembro-me de há mais de 20 anos ter visto um, daqueles híbridos entre o traje de verão do Brasil em mocinhas tiritantes e máscaras mais ou menos brilhantes à Veneza e até com a trapalhice de figurões que pareciam sobrar de trupes mais popularuchas. Lembro-me até de um ano em que por essa época o tempo não ajudou e adiou-se o desfile para ter lugar já em plena Quaresma o que, mesmo para quem como eu não pauta o seu calendário pelo litúrgico, pareceu no mínimo ridículo. Enfim, o mais próximo do que será um caos permitido serve para extravasar energias antes de se retornar à contenção do que é o quotidiano de regras que permitem, ou devem permitir, uma convivência mais ordenada.

Temos em Évora uma preciosidade cultural que são as Brincas de que até já vos falei nestas crónicas no ano passado por esta mesma altura. Se brincar ao Carnaval significa perpetuar uma tradição, a verdade é que há sempre um espaço para uma falsa novidade que são as piadas em torno dos políticos. Piadas em forma de gigantones nos ditos corsos e desfiles, ou bocas mais ou menos engraçadas que os palhaços que atrapalham, ou melhor tentam atrapalhar, a encenação e desempenho do fundamento das Brincas, fazem.

Como os programas de análise política e os comentadores de sucesso de TV e Rádio, independentemente do calendário das festividades, fazem atualmente constantes graçolas sobre os políticos – e alguns põem-se a jeito, é verdade – supunha, e ainda não perdi a esperança de ver ou ouvir, que este ano houvesse efetivamente alguma novidade nos corsos de Carnaval. Para além dos adiamentos durante o fim-de-semana por motivos meteorológicos que também não são novidade e que espero sinceramente que hoje se resolvam, para além da ausência de dispendiosas figuras públicas que têm atravessado o Atlântico para tiritar connosco de coroa na cabeça, estava à espera de ver desfilar os banqueiros e empresários portugueses, que vieram ao longo deste último ano entre carnavais fazer intervenções em espaço público, e que me pareceram dignas de serem respondidas também em críticas de desfile de Entrudo.

Resumindo, julgava que aos políticos era dada alguma folga. Não porque ache que não haja motivos que permanecem e vêm desde tempos longínquos para os criticar, apesar de as mais finas e imaginativas críticas tenham sido, na minha opinião, as caricaturas à política mais do que aos políticos. Nem muito menos por exercer desde há mais de três anos um cargo político. Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele. O que me parece, e estou pronta para discuti-lo, ou melhor ainda por agir de forma e conforme, é provar que não há só Lobos Maus… e os Capuchinhos Vermelhos não são todos puros!